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Sem vacina, embaixador de Bolsonaro não pisava no Departamento de Estado
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Nestor Forster, embaixador do Brasil nos EUA durante os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro, não estava autorizado a pisar no Departamento de Estado norte-americano, a sede da diplomacia dos Estados Unidos. O motivo: se recusava a se vacinar.
O embaixador era um dos bolsonaristas mais convictos da carreira diplomática e creditado por ter sido próximo de Olavo de Carvalho, guru do movimento de extrema direita no Brasil. Durante os anos de Donald Trump, ele ainda foi instrumental no fortalecimento da ligação entre os ultraconservadores americanos e brasileiros.
Mas, quando a pandemia da covid-19 chegou, o governo americano iniciou a adoção de medidas. Uma delas, justamente para permitir o funcionamento do estado, foi a exigência de que qualquer visitante mostrasse o certificado de vacinação para entrar em alguns dos principais prédios públicos de Washington.
Um deles era o Departamento de Estado, onde a política externa americana é desenhada e operacionalizada. É ainda ali que reuniões com delegações estrangeiras ocorrem.
O chefe da delegação brasileira em Washington, portanto, não tinha acesso ao principal local de interlocução de seu trabalho.
Sua insistência em não se vacinar e sua exclusão do prédio causaram indignação dentro do Itamaraty, principalmente por diplomatas que apontavam que a existência de uma embaixada seria justamente para permitir o contato do país com os órgãos de tomada de decisão da diplomacia americana.
Assim que assumiu a presidência, um dos primeiros atos administrativos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva com a política externa foi anunciar a remoção do embaixador do Brasil em Washington.
"Sérias consequências"
Mas ele não foi o único. Em Tel Aviv, o governo de Bolsonaro também causou uma crise. A chefia da embaixada do país em Israel se recusou a tomar a vacina contra a covid-19 e, em um certo momento, o Brasil mantinha o status de ser o único país com delegação em Israel sem estar vacinada.
O governo de Israel era um aliado do bolsonarismo. Mas, na pandemia, adotou uma política radicalmente diferente daquela do ex-presidente brasileiro. O governo de Benjamin Netanyahu lançou uma das maiores ofensivas de vacinação do mundo, estocando milhões de doses extras e exigindo que todos fossem imunizados.
Diante da situação da chefia da delegação brasileira, as autoridades israelenses ignoraram a aliança com o bolsonarismo e mandou um alerta: a recusa em se vacinar levaria a "sérias consequências".
Para alguns dentro do Itamaraty, o alerta soou como um risco de expulsão. Dias depois, o chefe da embaixada foi finalmente vacinado.
Sem dar a mão e lanche na calçada
Ao longo dos anos de negacionismo científico, o então presidente Jair Bolsonaro ainda enfrentou situações constrangedoras em suas viagens ao exterior. No final de outubro de 2021, durante a cúpula do G20 em Roma, o brasileiro foi o único que foi orientado a não dar a mão ao anfitrião, Mario Draghi, no momento em que o chefe de governo italiano o recebeu para a reunião. Os dois apenas fizeram uma saudação com a cabeça, mantendo uma distância.
Em setembro daquele mesmo ano, Bolsonaro abriu a Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque. Apesar das restrições nos EUA e na cidade contra qualquer pessoa que não estivesse vacinada, o organismo internacional fechou um acordo pelo qual não exigiria o comprovante de vacina dos chefes de estado e chefes de governo.
Resultado: Bolsonaro pode entrar no prédio da ONU. Mas teve de comer pizza na calçada.
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