Declarar Lula persona non grata é 'estupidez', diz chanceler palestino
Uma "estupidez" e um "ato de imaturidade política". Foi assim que, em entrevista exclusiva ao UOL, o chanceler palestino, Riyad Al Maliki, definiu a decisão do governo de Benjamin Netanyahu de qualificar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como "persona non grata".
Maliki é um dos principais nomes da política palestina e, desde 2007, é o ministro das Relações Exteriores da Autoridade Palestina. Antes, foi ministro da Informação e porta-voz do governo. O chanceler é um dos principais quadros do Fatah — grupo político sem relação com o Hamas e que controla a Cisjordânia.
Desde o início da crise que eclodiu a partir dos ataques do Hamas, em 7 de outubro de 2023, ele tem sido o principal rosto da diplomacia palestina, realizando uma permanente ponte aérea entre as principais capitais e a sede da ONU.
Na semana passada, depois de fazer uma referência à Alemanha nazista e dizer que um genocídio estava sendo promovido em Gaza, Lula foi declarado como persona non grata em Israel pelo governo de Netanyahu. O Brasil convocou de volta o embaixador em Tel Aviv, Frederico Meyer, e chamou o embaixador de Israel em Brasília para expressar o mal-estar.
Israel afirmou que a situação de Lula seria mantida até que o brasileiro pedisse desculpas pelo que havia dito. "Foi muito estúpido da parte deles [israelenses]", disse.
Isso mostra estupidez, mostra falta de visão, mostra imaturidade política e falta de sabedoria.
Maliki, porém, defende que a atitude de Netanyahu revela "com quem estamos lidando". "Estamos lidando um bando de indivíduos imaturos, que não respeitam direito internacional."
O chanceler lembrou como, antes dos ataques contra Lula, o governo de Israel criticou o secretário-geral da ONU, António Guterres, e pediu sua demissão. Isso ocorreu após o diplomata ter mencionado o fato de que os ataques do Hamas "não ocorreram no vácuo".
"Não há limite para seu comportamento", criticou o palestino. "Pergunte para nós. Vivemos sob a ocupação deles por 56 anos. Conhecemos eles muito bem. Talvez esse seja um episódio entre Brasil e Israel. Mas estamos lidando com tantos episódios todos os dias. Somos especialistas", ironizou.
Maliki faz uma recomendação: "Lula deveria considerar a declaração [de persona non grata] como uma elogio, quando vem dos israelenses".
O chanceler ainda destacou a "coragem" de Lula de repetir a acusação de genocídio, dias depois de ser criticado por Israel. "Não se pode virar as costas diante do sofrimento dos outros. Sofrimento humano é sofrimento humano. Ele sabe disso e vemos isso em suas declarações."
Questionado sobre a referência à Alemanha nazista feita por Lula, o chanceler ponderou.
"Depende de como ele disse. Não é apenas ao dizer 'nazista' que já saltamos da cadeira e passamos a ser acusados de antissemita", disse. "Não é por um menção a Hitler que já se fala em ser anti-israel."
Para ele, há uma comparação no sentido da "magnitude do sofrimento".
O que ocorreu em 1939, não estávamos lá para prevenir. Agora, estamos no poder e precisamos fazer o possível para que evitar algo similar ocorra. Não importa se é uma vida brasileira, israelense e ou palestina. O importante é se levantar pela humanidade.
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