Pós-Bolsonaro, Brasil e França relançarão parceria no setor militar
A viagem do presidente Emmanuel Macron ao Brasil, na próxima semana, será marcada pelo restabelecimento da parceria estratégica entre os dois países, em especial no setor militar.
O UOL apurou que os governos do Brasil e França vão anunciar um novo plano de ação e que vai incluir a criação de um mecanismo que irá monitorar a parceria no setor de defesa. Um dos objetivos será o de permitir que as vendas de equipamentos e produtos ocorram também a partir de empresas brasileiras para os franceses, além de identificar possibilidades de transferências de tecnologia.
Macron visitará no dia 27 de março o estaleiro e base naval de Itaguaí, a 60 km do Rio de Janeiro, e que serve de base para a construção de submarinos projetados a partir de uma parceria entre os dois países. A visita será marcada pela saída ao mar do terceiro submarino construído no estaleiro.
Em estreita cooperação com a França, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos foi criado em 2008, no segundo mandato de Lula. Mas, segundo o Elysee, a relação política entre os dois países foi "praticamente congelada" durante a gestão de Jair Bolsonaro e os contatos viveram um "eclipse" de quatro anos.
O UOL apurou que, entre 2021 e 2022, a diplomacia francesa determinou que os contatos até mesmo com a embaixada do Brasil em Paris fossem reduzidos. O relançamento da parceira estratégica voltou a ganhar ritmo entre os dois países em 2023.
Janja será madrinha
Batizado de "Tonelero", o submarino que será lançado ao mar é o terceiro de uma série de cinco já previstos em 2008. Ele terá a primeira-dama Janja Lula da Silva como a madrinha de batismo.
Na avaliação dos militares, os submarinos equipados com modernos sensores, mísseis e torpedos "possuem alta capacidade dissuasória por serem armas letais de difícil localização quando submersos" e o novo submarino "contribuirá para a defesa da Pátria e da Amazônia Azul".
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"O projeto do "Tonelero" incorpora a modernidade das embarcações francesas da classe Scorpène, com adaptações e incrementos para atender às necessidades específicas das operações da MB", disse a Marinha.
Após ser colocado na água, o "Tonelero" vai dar início ao processo de testes para avaliar as condições de estabilidade no mar e os sistemas de navegação e de combate.
"Com o fim de proteger a Amazônia Azul e garantir a soberania brasileira no mar, a Marinha do Brasil tem procurado investir na expansão da Força Naval e no desenvolvimento da indústria de defesa", disse a Marinha.
Em função da transferência de tecnologia por parte da França, a Marinha estima que o Brasil terá a capacidade de "projetar, construir, operar e manter seus próprios submarinos convencionais e com propulsão nuclear".
"O arrasto tecnológico, proporcionado pelo desenvolvimento e aprimoramento das tecnologias embarcadas no submarino, estimulará não só a área de Defesa, mas também setores nacionais civis nos campos de Ciência, Tecnologia e Inovação", disse.
"Em perspectiva de longo prazo, o Brasil poderá mitigar sua dependência da contribuição externa para seus projetos de submarinos, podendo, inclusive, gerar oportunidades para exportação dessas tecnologias", completou a Marinha.
Submarino nuclear: negociações com AIEA e franceses
A relação entre os dois países também envolve um velho sonho da Marinha: a construção de um submarino nuclear, que será o quinto da série iniciada em 2008. O reator será desenvolvido no Brasil. Mas o país precisa de apoio dos franceses para a fabricação do casco e de outros equipamentos.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberO submarino faz parte da Estratégia Nacional de Defesa, lançada em 2008, e que estabeleceu que o Brasil dispusesse de uma "força naval de envergadura". Os quatro submarinos com propulsão diesel-elétrica propiciariam a capacitação do Brasil para a construção do seu primeiro submarino convencionalmente armado com propulsão nuclear, o "Álvaro Alberto".
Para a Marinha, isso representará "uma elevação sem precedentes no patamar dissuasório e tecnológico da Defesa Nacional".
De acordo com diplomatas, as conversas neste sentido também estão ocorrendo. Paris irá fazer a transferência da tecnologia uma vez que o Brasil tenha desenvolvido o reator.
Parte da construção do submarino nuclear brasileiro ainda envolve uma intrincada negociação na Agência Internacional de Energia Atômica, em Viena.
O desenvolvimento de um submarino de propulsão nuclear não é proibido. Mas, como país não-nuclear, o Brasil é obrigado a submeter qualquer tipo de produção de energia a um controle por parte da agência internacional.
Nos últimos meses, membros do Itamaraty têm negociado com a AIEA como será feito o acompanhamento do combustível nuclear. Ainda que o submarino sequer exista ainda, o gesto brasileiro tem como objetivo mostrar transparência por parte do governo.
Mas o Brasil ainda esbarra em outro obstáculo: a Austrália também está desenvolvendo seu submarino nuclear, o que vem deixando a China preocupada e dificultando a aprovação de qualquer projeto na AIEA.
O Itamaraty insiste que o submarino brasileiro cumpre todas as exigências internacionais de salvaguarda do uso de combustíveis nucleares.
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