Milei e Paraguai 'substituem' Bolsonaro na defesa de Israel na ONU
O governo do presidente Javier Milei, da Argentina, promoveu uma guinada em sua política externa nesta semana, abandonando a tradicional posição do país em temas de direitos humanos e votando pelo apoio a Israel em resoluções da ONU ou se abstendo em textos que saem em defesa dos palestinos.
Se nos últimos anos o governo de Jair Bolsonaro havia atuado como o principal aliado latino-americano de Israel nas votações na ONU, a função agora foi substituída pela diplomacia de Milei e também pela do governo paraguaio.
Em fevereiro, Milei anunciou seu projeto de transferir a Embaixada da Argentina de Tel Aviv para Jerusalém, um ato que confirma a vontade de Buenos Aires de reconhecer a cidade histórica como capital de Israel. O gesto vai contra as resoluções da ONU.
Nos últimos meses, o governo do Paraguai também modificou sua postura e tem votado contra resoluções na ONU que denunciem Israel. Em janeiro, Assunção ainda "rechaçou" as acusações apresentadas à Corte Internacional de Justiça apontando para um genocídio cometido por Israel em Gaza e insistiu sobre a "legítima defesa" do país contra os ataques terroristas.
Agora, o alinhamento do presidente Santiago Peña ainda acontece depois do início das negociações para a abertura do mercado dos EUA para a carne do país e do projeto de fortalecer a hidrovia com a Argentina de Milei.
No total, quatro resoluções foram votadas na sexta-feira (5) no Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre a situação palestina. Sob Lula, o Brasil rompeu com o posicionamento de Bolsonaro e apoiou a causa palestina. Em duas das quatro resoluções, o Itamaraty até mesmo passou a patrocinar os textos que denunciavam a ação de colonos israelenses e que defendia a autodeterminação do povo palestino.
Mas, durante o debate, a defesa vocal aos israelenses foi feita pela Argentina. Já o Paraguai se alinhou aos EUA e votou contra todas as resoluções que poderiam afetar os israelenses.
Numa resolução que pedia que Israel fosse responsabilizado por crimes de guerra e crimes contra a humanidade, por exemplo, o governo Milei saiu em apoio a Benjamin Netanyahu. Apenas seis governos adotaram tal postura. A resolução foi aprovada com 28 apoios, entre eles o do Brasil e do Chile.
A delegação argentina usou um argumento que fazia eco às falas das autoridades israelenses, de que o governo de Netanyahu tinha o direito de se defender e que o Hamas também precisa ser denunciado. O Paraguai também votou ao lado dos israelenses.
Em uma outra resolução que tradicionalmente é aprovada na ONU a cada ano e que fala do direito dos palestinos à autodeterminação, a Argentina optou pela abstenção e não apoiou o projeto. Neste caso, a resolução foi patrocinada pelo Brasil.
Apenas dois países votaram contra o projeto: EUA, o maior aliado de Israel, e o Paraguai.
Numa terceira resolução sobre a situação da região de Golã, o governo da Argentina voltou a optar por se abster e Paraguai votou ao lado dos americanos e europeus contra o texto.
Por fim, numa resolução que pede o fim da ocupação das terras palestinas e denuncia os colonos israelenses, os argentinos uma vez mais se abstiveram. Enquanto isso, os paraguaios saíram ao apoio explícito dos israelenses.
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