Amorim diz que falta de transparência na Venezuela incomoda e aguarda atas
O enviado do governo brasileiro para Caracas, Celso Amorim, afirmou que está "incomodado" com a questão da transparência na eleição venezuelana e que as atas das sessões eleitorais precisam ser fornecidas, como ficou combinado com as autoridades venezuelanas. Mas alertou que tampouco vai endossar a acusação da oposição de que houve fraude.
O UOL apurou que a delegação de Amorim está se reunindo neste momento com os observadores internacionais, justamente para entender o que está ocorrendo. "O problema que incomoda mais é a [falta de] transparência", disse. "O governo continua acompanhando até ter os dados necessários para fazer uma coisa com base, como em toda eleição", explicou o diplomata.
Maduro teve 51,2% dos votos, anunciou o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), órgão responsável pela realização dos processos eleitorais no país. Com 80% das urnas apuradas, o atual presidente foi declarado vencedor ao obter 5,150 milhões de votos contra 4,445 milhões (44,2%) de Edmundo González Urrutia. O anúncio ocorreu por volta da 1h da madrugada (horário de Brasília) e depois não foi mais atualizado.
Amorim declarou que não está colocando em dúvida o que está sendo dito, mas insistiu: "Tem que ser transparente". "O governo ficou de fornecer as atas das quais esse número resulta, mas isso ainda não aconteceu", completou.
"O governo brasileiro continua acompanhando o desenrolar dos acontecimentos para poder chegar a uma avaliação baseada em fatos", disse. "Como em toda eleição, tem que haver transparência, o CNE ficou de fornecer as atas que embasam o resultado anunciado", afirmou. "Também não vou endossar nenhuma narrativa de que houve fraude. É uma situação complexa e nós queremos apoiar a normalização do processo politico venezuelano", explicou.
Conforme a reportagem revelou com exclusividade ainda na noite de domingo, o governo brasileiro iria aguardar que as atas da eleição presidencial na Venezuela estejam disponibilizadas para reconhecer os resultados do voto em Caracas, após eleições tensas.
Risco de fraude
A precaução de Brasília é tomada diante do risco de fraude. O Brasil solicitou à missão da ONU destacada na Venezuela e ao Carter Center que averiguem as denúncias da oposição sobre problemas na apuração dos votos. A ONU e o Carter Center foram recebidos na condição de observadores.
Após críticas de Nicolás Maduro ao sistema eleitoral brasileiro, na semana passada, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) desistiu de enviar técnicos para acompanhar as eleições.
A oposição venezuelana afirma que não teve acesso a muitos boletins de urnas. Agora, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva quer que os observadores verifiquem a procedência da acusação.
Nos últimos dias, o Brasil foi informado por autoridades venezuelanas que Maduro reconheceria os resultados da eleição, considerada como estratégica para toda a região.
Os interlocutores brasileiros, porém, não receberam a mesma mensagem por parte da oposição, que cobrou garantias sobre o procedimento de contagem dos votos e sugeriu que uma apuração paralela também pode ocorrer.
Relação com a Venezuela
A eleição é a aposta do Brasil para tentar normalizar a relação da Venezuela com o mundo, assim como reduzir a tensão para permitir uma estabilização do fluxo migratório e de refugiados.
Ao longo dos últimos dias, uma delegação enviada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e liderada pelo embaixador Celso Amorim se reuniu com o chefe da diplomacia venezuelana e outras autoridades. O UOL apurou que, em todos os contatos, os representantes do governo Maduro sinalizaram que não vão questionar o que sair das urnas.
As garantias foram dadas depois de um período de turbulência e dúvidas. Maduro alertou que haveria um "banho de sangue" caso ele não vencesse e, em manobras, desenhou as cédulas de votação de uma forma que pode causar confusão ao eleitor.
A delegação brasileira em Caracas também manteve contatos com a equipe dos candidatos de oposição. O UOL apurou que, nessas reuniões, não houve a mesma garantia de reconhecimento imediato do resultado da eleição.
O argumento desses grupos é de que tudo vai depender da condição de apuração. No caso de uma vitória da oposição, porém, o reconhecimento seria garantido.
Esforço do Brasil é de manter todos comprometidos
A operação de articulação do Brasil na Venezuela começou no início de 2023. Lula considerou que a estratégia adotada por Jair Bolsonaro de isolamento havia fracassado e minava os interesses nacionais.
Em fevereiro do ano passado, Lula conversou com o presidente Joe Biden sobre a necessidade de permitir que um processo eleitoral pudesse colocar um fim à crise. Nos meses seguintes, americanos mantiveram conversas confidenciais com o governo Maduro e com a oposição e, em outubro de 2023, um acordo foi estabelecido em Barbados.
Em troca, Biden sinalizou que repensaria as sanções contra Caracas, liberou um aliado de Maduro que estava detido e que faria concessões sobre os venezuelanos em território americano.
Desde então, tanto Washington como Brasília vem trabalhando para assegurar que todos respeitem o acordo, as regras eleitorais, se mantenham engajados no processo sem boicotes e que os resultados sejam aceitos.
105 comentários
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Airton Isidoro da Silva Junior
É preocupante ver Maduro reeleito em um processo tão conturbado. O governo brasileiro, ao receber Maduro no início de seu mandato, não pode ficar em cima do muro diante das irregularidades relatadas. Precisamos ouvir também a posição de figuras como Celso Amorim; honestamente, não consigo encontrar algo que tenha feito para admirá-lo. Independentemente da minha opção política ou de qualquer pessoa, a tolerância a regimes autoritários não pode ser uma opção.
Marcio Francisco Zichia
Nine/Maduro…Os parças!
Caio Luiz Cibella de Carvalho
Celso Amorim foi fazer o que lá? Chancelar o resultado de Maduro ?