Jamil Chade

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China, Irã e Rússia querem Venezuela no Brics, e Lula vive saia-justa

A cúpula do Brics, que ocorre na semana que vem na Rússia, promete causar uma saia-justa para o governo brasileiro. Na agenda da reunião com a presença dos líderes está a criação de um grupo de membros associados, que participariam de praticamente todas as reuniões do bloco — mas não teriam poder de veto. A ideia é a de que o grupo conte com dez países, entre eles a Venezuela.

Se todos aceitam a ideia do estabelecimento de uma nova categoria de membros, a disputa está nos candidatos. O Brasil não conseguiu convencer Colômbia e Angola a se apresentarem, e passou a apostar na eleição de Cuba e Bolívia.

Mas, fazendo uma forte campanha nos bastidores, a Venezuela ganhou o apoio de China, Rússia e Irã, países que reconheceram a vitória de Nicolás Maduro na eleição de julho.

Numa coletiva de imprensa, na sexta-feira (18), o presidente russo e do Brics em 2024, Vladimir Putin, insistiu que "as portas estão abertas" a novos membros. "Não estamos barrando ninguém", disse.

Segundo ele, 30 países querem uma cooperação maior com o Brics. Para ele, a expansão vai "aumentar a autoridade do Brics". "Atrás de cada um deles tem seus aliados", disse. Mas admitiu que as decisões terão de ser tomadas por consenso.

Putin rejeitou a ideia de que o bloco seja uma oposição ao Ocidente. "O que distingue o Brics é que o bloco nunca foi contra alguém. Não é um grupo anti-Ocidente. É só um grupo não-Ocidental", insistiu.

No Itamaraty, o que se escuta é que o Brasil vetaria a candidatura da Venezuela, já que sequer reconheceu a vitória de Maduro.

O Brasil também considera que, mesmo que fique sozinho na rejeição aos venezuelanos, o país deveria ter um peso maior na decisão, já que se trata da candidatura de um sul-americano.

Mas negociadores estimam que uma decisão será tomada apenas quando os líderes se reunirem, nos próximos dias, em Kasan, na Rússia.

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Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a situação cria uma saia-justa. Sua aposta pelo fortalecimento do Brics passa por uma relação de aliança, principalmente com a China. Um racha dessa natureza pode ser vista como uma primeira crise interna no bloco.

A tensão entre os principais atores do Brics também ficou evidenciada na Assembleia Geral da ONU, em setembro. Num encontro entre os chanceleres do bloco, um desentendimento sobre as referências à reforma do Conselho de Segurança da ONU levou o ministro russo Sergei Lavrov a se levantar, encerrar a reunião e deixar a sala.

A reunião ministerial do Brics terminou, pela primeira vez, sem a adoção de um comunicado final conjunto, numa sinalização explícita das dificuldades do bloco diante de sua expansão.

No ano passado, quando o Brics passou por uma expansão, o Itamaraty demonstrou preocupação sobre o que isso poderia significar para a coesão do bloco. Também havia o temor de que, com novos membros, haveria um bloqueio ainda maior sobre uma posição conjunta em temas como a reforma do Conselho.

Por isso, negociou como critério que os novos membros teriam de apoiar a expansão do órgão com a inclusão explícita de Brasil, Índia e África do Sul como candidatos.

Essa garantia de apoiar as ambições do Brasil foi a moeda de troca que o Itamaraty estabeleceu: aceitaria a entrada de novos membros, com a condição de que todos assinassem a reivindicação brasileira por uma vaga permanente.

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Naquele momento, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã passaram a fazer parte do bloco, além dos sauditas que ainda avaliam a adesão.

Mas, em Nova York, Egito e Etiópia rejeitaram apoiar o documento da reunião que, mais uma vez, citava as aspirações do Brasil e de seus aliados para a entrada no Conselho. Os dois novos países do Brics alegaram que não tinham autorização para assinar um documento que indicava o nome da África do Sul como candidata à vaga no Conselho.

Entre os africanos, existe uma acirrada disputa sobre quem seriam os representantes do continente em uma eventual reforma do Conselho de Segurança. A União Africana, por exemplo, apenas fala da necessidade de que o novo Conselho tenha dois membros permanentes da África e mais dois assentos para não-permanentes.

O Brasil, ao lado da Índia, argumentou que esses eram os critérios para a adesão ao bloco e que, portanto, esses novos países não poderiam, agora, se dissociar ou rejeitar esse trecho do texto.

Segundo diplomatas, o primeiro mal-estar dentro do bloco começou há poucas semanas quando, numa reunião na Rússia, as referência explícitas ao Brasil, Índia e África do Sul foram substituídas por "países do Brics" como aspirantes às vagas no Conselho. A retirada do nome do Brasil gerou insatisfação dentro do Itamaraty.

Caberá aos líderes, em Kasan, definir de que maneira esses impasses serão resolvidos dentro do bloco.

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