Corrida às concessionárias e ida ao México: americanos fogem das tarifas
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Em um supermercado em Phoenix, na zona árida do Arizona, a baunilha vem de Madagascar, as bananas da Guatemala ou Costa Rica. As nozes vêm do Brasil, enquanto o peixe desembarca do Vietnã e Chile, e o chocolate é importado do Equador. Mas, a partir de agora, tudo isso pode ficar mais caro.
Por todo o país, americanos se preparam para enfrentar a inflação diante das tarifas impostas por Donald Trump contra o mundo inteiro. Seja estocando alimentos, antecipando compras de veículos, roupas e até planejando cruzar a fronteira ao México para fugir dos custos mais elevados.
Se antes a equipe de Trump insistia que nada afetaria a renda dos americanos, o tom mudou radicalmente desde a semana passada. O presidente chegou a pedir que a população "aguente firme", e o investidor Bill Ackman, um conhecido apoiador do republicano, alertou que o país viverá um "inverno nuclear na economia" se as tarifas não forem abandonadas.

Itens básicos no México
Na fronteira entre o estado do Arizona e o México, a população de cidades como Douglas já tem a receita para fugir da eventual alta nos preços: cruzar a fronteira e fazer suas compras de itens básicos e alimentos do lado mexicano.
Os bens mexicanos continuarão a entrar nos EUA sem taxas por enquanto. Mas isso não é suficiente para manter a inflação sob controle e nem impedir que as famílias sejam afetadas. Do outro lado, em Agua Prieta, a medida servirá como uma espécie de válvula para a inflação que pode atingir os mercados de Douglas.
Nos últimos meses, as autoridades americanas admitiram que começaram a detectar uma explosão no número de confiscos de um contrabando inesperado vindo do México: ovos. Com a explosão nos preços do produto nos EUA, americanos passaram a comprar o alimento do outro lado da fronteira.
Um setor que pode se beneficiar ainda mais no México é o de roupas. Atualmente, 97% dos itens das grandes marcas americanas como Nike e Gap são importados, principalmente da Ásia. Trump, porém, passou a taxar o Vietnã em 46% e Bangladesh em 37%.
As tarifas também tendem a modificar o padrão de compra na fronteira norte dos EUA. O colunista David Frum, do site The Atlantic, ironizou dizendo que as tarifas podem fazer do contrabando um novo segmento importante da economia canadense de fronteira, fornecendo uma saída aos consumidores americanos em cidades que estão coladas ao território.
"O Canadá poderia se tornar um paraíso do consumo: uma nova e brilhante Berlim Ocidental para uma versão MAGA monótona da Alemanha Oriental", disse, em tom de ironia. "Até mesmo a brutal polícia secreta da Alemanha Oriental perdeu sua luta contra a circulação de mercadorias. No final, a Stasi havia desistido de tentar", lembrou.
"O fato de o Canadá ajudar os contrabandistas dos EUA pode parecer um ato hostil, mas as tarifas dos EUA são um ato ainda mais hostil", defendeu.
Antecipando a compra de itens caros
Mas é nos EUA que o surto de compras é nítido. Uma pesquisa feita pela CreditCards.com, em fevereiro, constatou que 20% dos americanos decidiram antecipar compras de itens mais caros, temendo as tarifas.
Em visita a um supermercado em Flagstaff, no Arizona, a reportagem do UOL confirmou o temor dos consumidores. "Estou comprando o dobro do que faria nesta semana enquanto os preços não mudam", disse Anna, uma moradora da cidade e mãe de três meninos.
Um dos setores que mais registrou esse salto foi o de carros. No relatório de vendas do primeiro trimestre do ano, a Ford confirmou o aumento fora do normal para suas vendas. O crescimento foi de 5% no trimestre, puxado por uma expansão de 19% apenas no mês de março.
A Cox Automotive, dona de sites de informações sobre carros, como a Blue Book, Autotrader e Dealer.com, também confirmou um aumento maior que 54% na compra de carros nos últimos dias. Além disso, uma concessionária da Toyota em Phoenix confirmou que teve um aumento "expressivo" de buscas após os anúncios de tarifas.
"Mais que pânico, o que vemos a preocupação com a incerteza", disse um dos vendedores. Com 25% de tarifas sobre todos os carros importados, itens mais caros podem chegar a ter um aumento até de US$ 5 mil num primeiro momento.
Pelas estradas do Arizona, um cartaz ainda alerta a população sobre o impacto das tarifas. No anúncio, o motorista é avisado: "você é quem pagará por essas tarifas". O cartaz é pago pelo governo do Canadá, em uma ofensiva contra Trump no estado que votou pelo republicano.
No estado, que recebe milhares de canadenses fugindo do rigoroso inverno ao norte, outro fenômeno foi identificado: o de cidadãos canadenses vendendo suas propriedades ao sol. Dados das imobiliárias de Phoenix apontam que, entre janeiro a março de 2025, houve um aumento de 700% no número de residências secundárias de canadenses sendo colocadas à venda, e uma queda de cerca de 40% nas compras.
44 comentários
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Pedro Pereira Filho
Tudo isso é consequência de votar na direita.
Aldo Roberto Antunes
A conta da eleição do criminoso veio logo. Os americanos estão antecipando compras e estocando mercadorias em casa, mesmo com os preços extremamente elevados, inclusive comprando no México para fugir das altas tarifas que Trump impôs. O Canadá já começou a cortar gás e energia aos EUA. Em todo mundo, a economia vai desacelerar, mas quem está chorando muito e primeiro são os próprios americanos. Lamentável que quem não votou em Trump, também, esteja pagando essa conta. A queda da situação econômica dos EUA está no começo, fábrica já estão paralisadas, demissões de milhares de empregados, mas essa derrocada já está sendo desastrosa para os próprios americanos.
Roberto David Martinez Garcia
O laranjão está governando os EUA como se estivesse no comando de um programa de auditório, de muito mau gosto por sinal. Se continuar assim, logo logo vai ouvir as palavrinhas mágicas: you’re fired.