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Jeferson Tenório

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Não mudamos apenas de presidente, mudamos um estado de espírito

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a faixa presidencial - Ricardo Stuckert
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a faixa presidencial Imagem: Ricardo Stuckert

Jeferson Tenório

Colunista do UOL

02/01/2023 04h00

A ida de Bolsonaro para Orlando e a sua recusa em passar a faixa presidencial a Lula propiciou um dos momentos mais comoventes da história recente do Brasil. O ato simbólico da catadora Aline Souza, a mulher negra, que colocou a faixa presidencial em Lula, deu o tom do governo eleito: a preocupação com a diversidade e representatividade.

O ato também teve a presença de um menino negro, um rapaz com deficiência, um indígena, uma cozinheira, um metalúrgico e um professor. Todos ali, representantes do povo brasileiro. O que contrariou radicalmente aquilo que Bolsonaro disse no início de seu governo: de que a "minoria deve se curvar à maioria." Além disso, a posse teve vários elementos simbólicos, desde o uso da caneta dada por um eleitor em 1989, no Piauí, até o seu contundente discurso para o povo, na praça dos três poderes.

Além disso, a criação e recriação de ministérios como os da Cultura, das Mulheres e dos Povos Indígenas, demostram um projeto de governo voltado para proteção e valorização dos povos indígenas, para o combate das desigualdades, o combate à violência contra as mulheres e ao racismo estrutural.

Não há dúvidas de que estamos vivenciando um momento histórico da sociedade brasileira. Durante esses últimos anos, a democracia esteve em risco e as instituições foram testadas ao seu limite. Passamos por um dos períodos mais sombrios e turbulentos da nossa história após a redemocratização. Nunca estivemos tão próximo da falência democrática. Experimentamos cotidianamente o gosto amargo dos discursos de ódio proferidos pelo ex-presidente, experimentamos e sofremos com os ataques sistemáticos às minorias.

O fato é que não mudamos apenas de presidente, mudamos um estado de espírito. Todo clima bélico, negacionista, misógino e racista estimulado pela ideologia bolsonarista nesses 4 anos, sofreu um revés durante a cerimônia de Posse de Lula. Mudamos para uma visão humana e social. Mudamos para um presidente que se comove com as dores de quem passa fome. Que coloca como prioridade o combate às desigualdades e a valorização da cultura e da educação. Me parece tão cristalina a diferença entre um governo comprometido com as causas sociais e o outro preocupado com armamento, com fake news, com o descaso e o discurso de ódio. Talvez por isso, essas imagens da Posse de Lula causaram tamanha comoção.

O discurso do presidente foi duro no que diz respeito aos crimes cometidos pelo governo Bolsonaro e que precisam ser investigados com rigor e celeridade. Lula também chamou a atenção para necessidade de união do povo brasileiro. Entretanto, dizer que seu discurso estimulou ou criou um clima de revanchismo ou de caça às bruxas é desonesto.

Impossível não se comover com toda a cerimônia de Posse para quem acredita num mundo mais justo e menos desigual. O povo subiu a rampa. É uma imagem poderosa, e que acena para quem precisa ter as necessidades básicas atendidas. E, mais uma vez, Lula provou que é, sem dúvidas, um dos maiores políticos que o Brasil já teve.

Lula encerrou sua fala dizendo que o amor venceu ódio. Uma crítica clara ao discurso armamentista e violento do governo Bolsonaro. 2023 mal começou, no entanto, tenho a impressão de que a foto da subida da rampa já é a imagem do ano. Sim, parece que o sol voltou a brilhar e o amor voltou a ser eterno novamente.