Jeferson Tenório

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Opinião

Dados mostram que o Rio Grande do Sul como conhecíamos nunca mais existirá

A catástrofe causada pela crise climática foi tão devastadora no Rio Grande do Sul que deve transformar a geografia do estado. A enchente de 1941 foi um alerta do que vinha pela frente, um alerta que não foi levado a sério.

Vivi muitos anos em Porto Alegre e nesse período as águas do Guaíba ameaçavam por vezes o muro da Mauá, uma contenção construída para proteger a cidade. Por muito tempo a enchente de 1941 era vista quase como um evento folclórico da cidade, um evento longínquo e improvável de se repetir.

Mas a resposta veio com violência e destruição. A chuva extrema deste ano e a falta de manutenção e modernização das bombas que poderiam mitigar a tragédia se mostraram completamente ineficientes.

Cidades inteiras submersas, como Canoas e Lajeado, mostram com muita clareza que os efeitos do aquecimento global teriam forças suficientes para desaparecer com um estado inteiro.

As imagens do Aeroporto Internacional Salgado Filho, completamente tomado pelas águas, parecem tão absurdas que nos lembram os filmes de distopias norte-americanos sobre a extinção humana no planeta.

Os números de toda a catástrofe são assustadores: a força das águas inundou 92 mil lares em 428 cidades, o que corresponde a 85% do estado. Desabrigou mais 600 mil pessoas, 147 pessoas morreram e dezenas estão desaparecidas. Afetou a produção agrícola, com perda de grãos e animais. O solo foi destruído em muitas lavouras.

Na saúde, 164 unidades básicas de saúde foram afetadas e 9 hospitais estão inoperantes. Na educação, 358 mil alunos estão sem aula e, das 2.345 escolas, 1.028 foram afetadas de alguma forma.

Além disso, há o prejuízo psicológico que traumatizou milhares de pessoas. Um evento como esse deixará marcas profundas não só na paisagem do estado, mas também na subjetividade e memória dos gaúchos.

Se o Rio Grande do Sul não será mais o mesmo, a forma de administrar o estado também não poderá ser mais a mesma. Não esqueçamos que o governador Eduardo Leite nunca colocou em prática os estudos contra os eventos climáticos. Além disso, o governador promoveu um verdadeiro desmonte ambiental durante sua gestão, ao alterar 480 pontos do arcabouço de proteção ambiental.

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Em outras palavras, Eduardo Leite estava alinhado com o governo Bolsonaro ao flexibilizar leis ambientais que favoreceram negócios e transações comerciais, passando por cima de pesquisas e alertas.

O prefeito de Porto Alegre, Sebastiao Mello, também não fez o básico para mitigar a inundação na capital. Melo deveria deixar a manutenção de comportas e bombas minimamente em dia e modernizar os sistemas de proteção contra inundações.

Em entrevista ao Jornal Nacional, o prefeito afirmou que a enchente se deu também por causa da ocupação desordenada de alguns espaços, como se o planejamento de uma cidade não fosse responsabilidade da administração pública.

Estima-se que a reconstrução do estado poderá levar mais de uma década e custará bilhões aos cofres públicos. Envolverá a remoção de comunidades inteiras, além de um planejamento de prevenção de grandes dimensões, jamais vistas.

Porém, no processo de reconstrução não se pode esquecer do impacto em comunidades indígenas e quilombolas, já que a terra e seu cultivo são fundamentais para suas subsistências.

Não se pode esquecer que a flexibilização de leis ambientais, o negacionismo e a exploração ilimitada de recursos naturais podem mudar a paisagem de um estado pela destruição e pelas perdas de vidas. O Rio Grande do Sul não será mais o mesmo e nós também não.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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