Elon Musk sabe há muito tempo que apoiar a extrema direita dá lucro
Ao sugerir o descumprimento de uma ordem judicial e ativar contas que foram suspensas na plataforma X no Brasil, Elon Musk tensiona os limites do Judiciário brasileiro. Assim, logo as redes sociais, juntamente com um determinado tipo de cobertura jornalística, alimentam o discurso de "polarização": Musk versus Moares. Na verdade, nunca houve polarização, nunca houve equivalência de forças.
O que houve, desde o avanço da extrema direita no Brasil nos últimos anos, foram os constantes ataques à democracia. É desonesto fazer uma análise a partir de uma imagem tão tosca como a ideia de polarização.
No entanto, ainda que ameaçadas, as medidas tomadas pelas instituições brasileiras têm resistido. E é justamente essa resistência que é o problema para as big techs.
Mesmo se utilizando de um dos instrumentos mais eficazes do capitalismo, o cinismo, isto é, esta relação de exploração violenta da mão de obra como se fosse natural, não tem surtido o efeito esperado.
As big techs sabem da força que têm para interferir politicamente nos países. Os algoritmos trabalharam de maneira invisível nas últimas eleições para exercer influência no resultado.
Entretanto, o combate mais acirrado às fake news e os pedidos de regulamentação das redes sociais levaram Elon Musk a atacar, de maneira mais explícita, provocando assim uma reação do Judiciário brasileiro.
E a reação veio. O ministro do STF Alexandre de Moraes determinou que a conduta do empresário seja investigada em novo inquérito. Também incluiu Musk entre os investigados no inquérito já existente das milícias digitais. Além disso, o ministro ordenou que a rede X (antigo Twitter) não desobedeça a nenhuma ordem da Justiça brasileira. E estipulou multa de R$ 100 mil para cada perfil que ele reativar.
Tudo leva a crer que Musk está tensionando a corda para provocar algum tipo de mudança e tentar impedir a regulamentação das redes e plataformas no Brasil. Musk sabe que apoiar a extrema direita dá lucro. Sabe que sustentar discursos de ódio e ataques à democracia gera mais engajamentos e, por conseguinte, rendimentos bilionários.
Na verdade, os bilionários, no fundo, não estão interessados em ideologias ou causas; estão interessados em continuar lucrando. Para Musk, ter um tipo de governo subserviente, ou mesmo um governo enfraquecido que esteja a serviço dos seus interesses, é o que conta. Por isso, o ataque tão direto às instituições democráticas brasileiras.
Encerrar as atividades do X no Brasil seria uma atitude drástica ou mesmo uma decisão sem precedentes no país. Além disso, poderia dar mais combustível para a extrema direita de se reagrupar em torno de uma "causa".
Por outro lado, minar a democracia, como se não houvesse leis e instituições, é realmente inaceitável. Em breve, teremos eleições e é bom que a regulamentação das redes venha com urgência.
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.
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