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Jeferson Tenório

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Caso Vinicius Junior revela o desejo de morte de uma sociedade racista

Jeferson Tenório

Colunista do UOL

30/01/2023 04h00

Aviso aos navegantes que esta é a minha última coluna antes de tirar férias. Ficarei de molho no mês de fevereiro. Volto no início de março com minha coluna semanal, todas as segundas-feiras.

Dito isso, o tema desta semana é a cena de um boneco pendurado simulando o enforcamento do Jogador Vinicius Junior, atacante do Real Madri. Uma cena nefasta que não só remonta as práticas supremacistas brancas, como a Kun-Klux-Klan, mas também uma violência naturalizada e latente contra homens e mulheres negras. A imagem tem um efeito devastador em nosso imaginário e deveria ser encarada pelas autoridades como um ato terrorista.

O racismo, como sabemos, é um rizoma. É difuso. Se alastra, contamina, desaparece. Se esconde e se refaz. São muitas as cenas de racismo em estádios de futebol. Torcedores que se colocam no direito de serem racistas num pretenso argumento que tudo é uma questão de amor pelo time. Sem investigação rigorosa e punição dos autores, há uma grande probabilidade de que essas ações deixem ser um simulacro grotesco e passe para algo prático. Pois se nada for feito, não estranhem se na próxima vez tivermos um homem negro de fato enforcado numa ponte.

A mentalidade branca racista opera pela lógica do ódio às diferenças. Acredita em raças superiores e inferiores. A questão é que o racismo parece, muitas vezes, não ter solução. Não há um dia em que não vemos situações racistas das mais diversas formas. Tenho dito que as práticas preconceituosas têm se sofisticado ao logo dos anos. Tem se tornado mais sutil. Como uma espécie de vírus que vai se adaptando ao ambiente para sobreviver.

A questão é que essa sofisticação não significa que uma operação racista seja apenas pela via da sutileza, pois como temos acompanhado, homens e mulheres negras continuam morrendo em ações policiais, por exemplo. O processo de aniquilação de corpos pretos congrega múltiplas frentes: passa linguagem, pela aparência, pelas práticas simbólicas e pelos atos de violência física e de assassinatos.

Deste modo, o caso do jogador Vinicius Junior não pode ser visto como um incidente ou um evento isolado de torcedores fanáticos. Não é. Não podemos admitir que cenas como essas sejam minimizadas em nome do futebol. A cena de um boneco representando o enforcamento de um homem negro não é mera coincidência. Estamos falando de um imaginário racista subterrâneo e coletivo que eclode em manifestações violentas como essas.

Também tenho dito que uma sociedade que só pune seus agressores não está contribuindo para a erradicação do racismo. A pergunta é o que os clubes de futebol podem fazer para além de manifestações através de notas de repúdios, ou cartazes antes do jogo contra o racismo? E mais, o quanto a Europa, com seu histórico racista e xenofóbico, está disposta a lutar por uma sociedade de fato antirracista?