Jeferson Tenório

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Opinião

Ataque racista a estudantes é reflexo de uma classe média ressentida

As imagens de estudantes de direito da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) ofendendo, com palavras racistas, alunos da USP (Universidade de São Paulo), durante os Jogos Jurídicos realizados neste final de semana, na cidade de Americana, interior de São Paulo, trouxeram à tona o ressentimento de uma branquitude que tem dificuldades em aceitar os avanços sociais.

Os jogos universitários, há anos, vêm se tornando um espaço onde racismo e o preconceito são naturalizados, como se fossem uma autorização para proferir discursos de ódio contra minorias.

Em 2022, por exemplo, alunos de medicina da Universidade Iguaçu foram filmados gritando durante uma partida de futebol: "Ei, eu sou playboy. Não tenho culpa que seu pai é motoboy".

É preciso lembrar que jogos universitários ou qualquer outro ambiente esportivo não devem servir de desculpa para exercer o racismo recreativo. Em jogos, em que os nervos e as emoções afloram, não cabem comportamentos criminosos.

Ataques de estudantes são, na verdade, reflexos do que grande parte da classe média burguesa pensa de pessoas negras, pobres e periféricas. A branquitude sempre encontra formas de expressar seu ressentimento quando percebe a ascensão social de grupos excluídos.

A afirmação de classe comprova, sobretudo, a necessidade de uma classe média burguesa branca de se distinguir socialmente.

A lógica é a seguinte: já que não se pode mais impedir o acesso de negros e pobres ao ambiente acadêmico, é preciso, então, desqualificá-los, invertendo valores colocando as cotas como um demérito, por exemplo, e não como uma conquista.

Na verdade, as cotas, mais do que incluir pessoas negras e pobres na universidade, são também uma forma de educar a branquitude, assim como curar essa classe média do ressentimento e do medo injustificado de perder espaço numa sociedade desigual.

A diversidade no ambiente acadêmico é a possibilidade de classes mais abastadas conviverem e aprenderem com a diferença.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

27 comentários

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Antonio Pereira Dias Neto

Eu sou um crítico leve deste sistema, concordo com cotas pela imensa dívida com nosso passado cruel que foi abolido em 1888, além do sofrimento indígena desde 1500, mas o fato é que não há um incremento nas vagas das universidades públicas. Hoje, por exemplo, o vestibular da Unesp tem cerca de 85% das vagas para grupos negros, pardos, indígenas e de escola pública, sobrando apenas 15% para alunos de escolas particulares, em geral brancos. O que está acontecendo? Os superdotados passam nestes 15% e os medianos acabam ficando de fora das públicas. Exemplo, a Unesp tem 90 questões, aqueles que fizeram mais que 75 questões, provavelmente vão entrar (seja vaga comum ou de cota); já aqueles que tiraram entre 45 e 60 questões de vagas comuns (15%) estão fora e os entre 60 e 75 estão na torcida. Já os alunos cotistas podem tirar até 45 questões que passam nas 85% de vagas. É uma matemática difícil para a classe média, que vai pagar faculdade particular.

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Ronaldo Marinho dos Santos

Vai trabalhar rapaz, fica propagando ódio onde não existe nada! Que conversa mole esta de média, estão todos tentando cuidar de suas vidas.

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George Geraldo Bernardino da Silva

Foi toda a classe média que atacou? A sociedade sempre vai produzir quantidade mínima de criminosos de todos os tipos, incluindo racistas. Pois alguns são ruins de nascença. Ficar generalizando que a sociedade  toda é racista é um método de combate que vejo desde os anos 70 e só normaliza a coisa.

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