Tarcísio precisa afastar Derrite do cargo para ter credibilidade
A avalanche de imagens e denúncias de violência policial nos últimos dias tem demonstrado que a postura do governo de São Paulo influenciou de maneira profunda na prática dos policiais.
A política do vale tudo em ações e abordagens tornou-se comum e recorrente e cabe lembrar que, se não fossem as câmeras de celulares de pessoas comuns, talvez nunca tivéssemos acesso às denúncias.
O próprio governador paulista, Tarcísio de Freitas, chegou a reconhecer que "era uma pessoa completamente errada" nessa questão. "Eu tinha uma visão equivocada por conta da experiência pretérita que tive, que não tem nada a ver com a questão da segurança pública. Hoje estou absolutamente convencido de que é um instrumento de proteção à sociedade e ao policial", disse.
Embora tenha reconhecido seu erro, ele precisa afastar seu secretário de Segurança do cargo para dar algum tipo de credibilidade ao seu "arrependimento".
Ampliar a implementação de câmeras corporais não é uma mudança de postura, é apenas o cumprimento da lei. A mudança efetiva das condutas policiais passa pela reestruturação de uma visão institucional. Equipamentos como as câmeras não vão resolver o problema por si só. Até porque os maus policiais sabem como burlar o sistema sem precisar desligá-las.
As câmeras podem proporcionar o registro de ocorrências e, se bem utilizadas, servirão para proteger os cidadãos e também os policiais. Mas Tarcísio precisa compreender que as ocorrências com imagens de violência policial continuarão vindo à tona, pois há uma normalização desse tipo de conduta. Mais do que isso, há uma orientação explícita para que os direitos humanos não sejam respeitados. Uma orientação explícita para que corpos negros e periféricos sejam sempre vistos como alvos.
Um áudio de junho de 2015 revelou o que o atual secretário de Segurança pensa sobre ações de policiais: "Porque pro [sic] camarada trabalhar 5 anos na rua e não ter 3 ocorrências, na minha opinião, é vergonhoso, né. Mas é a minha opinião", disse Derrite na época.
Embora tenha se retratado dizendo que errou ao dizer isso, o aumento de mortes, a recusa em adotar o uso das câmeras corretamente e o caos instalado na segurança pública de São Paulo só comprovam que só dizer que errou não é o suficiente e não vai modificar a postura das abordagens e ações.
Se de fato o governador de São Paulo quer dar uma resposta convincente à população e à opinião pública, ele precisa começar arrumando a própria instituição que governa.
É intolerável assistirmos todos os dias cenas de violência e morte. É inadmissível que cidadãos sejam vistos como ameaças e se tornem alvos constantes de maus policiais.
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