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José Roberto de Toledo

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Confiança na imprensa é menor do que no WhatsApp

Capa WhatsApp - Divulgação
Capa WhatsApp Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

21/09/2022 19h58

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Apenas 46% dos brasileiros confiam nas notícias que recebem via meios de comunicação tradicionais. A confiança no noticiário da imprensa é menor do que nas notícias recebidas via Google (57% confiam) e via WhatsApp (53%) - mesmo que, muitas vezes, as fontes originais dessas notícias sejam a própria imprensa.

  • A desconfiança da população sobre as notícias só é maior quando sua origem são:
    • Facebook (40% confiam).
    • Instagram (39% confiam).
    • Twitter e TikTok (22% confiam em ambos).
  • A confiança nas notícias recebidas pelo YouTube é igual à confiança no noticiário da imprensa: 46%.

  • Quando se trata de noticiário sobre política, a desconfiança dos brasileiros sobre o que lêem na imprensa é ainda maior. Só 27% confiam.

As medições foram patrocinadas pelo The Reuters Institute for the Study of Journalism em parceria com a Universidade de Oxford (Inglaterra) e estão publicadas em estudo, divulgado hoje, chamado "The trust gap: how and why news on digital platforms is viewed more sceptically versus news in general".

  • Como se percebe pelo título, o Brasil é exceção. Nos outros três países estudados - Estados Unidos, Reino Unido e Índia -, o noticiário da imprensa é visto como mais confiável do que praticamente o de todas as plataformas digitais.
    • Na Índia, 67% confiam no noticiário político.
    • No Reino Unido, a confiança na imprensa é maior do que em todas as plataformas digitais.
    • Nos EUA, o uso de WhatsApp para notícias é irrisório.

A pesquisa de campo nos países foi pelo Instituto Ipsos.

E eu com isso? A crise de credibilidade da imprensa é um fenômeno mundial e crescente, como já foi constatado em outros estudos do mesmo Reuters Institute. A novidade desta nova pesquisa é a comparação da confiança na imprensa com a nas redes sociais quando se trata de notícias.

  • No Brasil, 58% da população usa o WhatsApp diariamente para receber notícias - seis vezes mais do que nos EUA e quatro vezes mais do que no Reino Unido.
  • Um campo no qual a confiança na imprensa é menor do que no WhatsApp torna-se especialmente fértil para a plantação de notícias falsas e a disseminação de desinformação em larga escala.
    • Contraditoriamente, 79% dos brasileiros concordam que informações falsas e errôneas são um grave problema no WhatsApp.

Isso não impede que a maioria absoluta, 53%, confie nas notícias que lê na mesma plataforma de mensagens instantâneas onde campeia a desinformação.

Para uma das autoras do estudo, a brasileira Camila Mont'Alverne, o processo de aumento da importância das plataformas digitais na disseminação de notícias é irreversível. E, no caso do WhatsApp, uma das razões principais é a conveniência de recebê-las sem esforço na tela do celular diariamente.

  • 76% dos brasileiros têm sentimento positivo sobre o WhatsApp, contra 60% no Reino Unido e 28% nos EUA.

Entre as razões para o aumento da crise de credibilidade da imprensa estão percepções negativas sobre a atividade jornalística:

  • 50% dos brasileiros acham que jornalistas tentam manipular o público para servir aos interesses de políticos poderosos.
    • As taxas são praticamente iguais nos EUA (51%) e Reino Unido (50%).
  • 47% acham que os jornalistas estão mais preocupados em chamar a atenção para si do que reportar os fatos.

  • 41% acreditam que jornalistas são descuidados com o que publicam.

Mas nem só sentimentos negativos sobre o trabalho da imprensa se multiplicam entre os brasileiros:

  • 48% acreditam que os jornalistas buscam confirmação com fontes independentes para as informações que publicam.
  • 46% crêem que os jornalistas não distorcem suas reportagens com suas opiniões sobre o tema.