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José Roberto de Toledo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Bondades' aumentaram custo para eleitor trocar de governo

Bolsonaro diz que o ministro da Economia, Paulo Guedes, fica no governo em eventual segundo mandato: "Nosso Pelé da Economia"                              - MARCOS CORRÊA/PR
Bolsonaro diz que o ministro da Economia, Paulo Guedes, fica no governo em eventual segundo mandato: "Nosso Pelé da Economia" Imagem: MARCOS CORRÊA/PR

Colunista do UOL

20/10/2022 13h20Atualizada em 21/10/2022 12h07

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O filme da eleição está seguindo o roteiro: a disputa Lula/Bolsonaro apertou e chegou aos 52% a 48% dos votos válidos. Essa aproximação foi antecedida pela melhora acentuada da avaliação do governo em outubro. O ótimo/bom cresceu 8 pontos em três semanas.

A melhora não é só por causa da propaganda. Não tem nada a ver com a "agenda de costumes". Vem do aquecimento do consumo muito bem cronometrado por Paulo Guedes. Desde o primeiro turno, o ministro:

  • Antecipou o pagamento do Auxílio Brasil e do vale gás.
  • Incluiu mais 500 mil famílias no Auxílio Brasil.
  • Anunciou um refinanciamento de dívidas do consumidor.
  • A Caixa começou a depositar centenas de milhões em empréstimo consignado para quem recebe Auxílio Brasil.
  • Acabou de lançar um programa de crédito habitacional baseado em FGTS futuro.

E daí? Esse pacote de "bondades" tornou o custo da mudança, ou seja, a decisão do eleitorado de trocar o presidente, mais caro. O eleitor volúvel, que admite votar tanto em Lula quanto em Bolsonaro, tem mais a perder agora se trocar o governo. O que as pesquisas desta semana mostraram é que parte desse eleitorado volúvel já migrou para Bolsonaro. Eram 10%, são 7%.

Isso significa que a eleição está decidida? Basta projetar a linha de tendência e concluir que Bolsonaro vai ultrapassar Lula e ganhar?

Não é tão simples. Por dois motivos:

  • A avaliação positiva do governo desacelerou na semana passada e, esta semana, parou de crescer (tanto no Ipec quanto no Datafolha).
  • A rejeição a Bolsonaro continua mais alta do que a rejeição a Lula:
    • quatro pontos a mais no Datafolha (50% a 46%).
    • cinco pontos a mais no Ipec (46% a 41%).

Por isso, Lula ainda é favorito - apesar de dois erros estratégicos de sua campanha:

  • Remeter o eleitor ao passado em vez de acenar com um futuro melhor.
  • Priorizar a agenda de costumes em vez do bolso e o bem estar econômico dos eleitores volúveis.

E qual é cara desses eleitores volúveis? São preponderantemente jovens de 18 a 24 anos, que moram em pequenas cidades, principalmente no Nordeste, estudaram até o Ensino Médio.

Por tudo isso, o bolso, ou seja, a economia é o fator decisivo da eleição. Ainda não dá para saber se as medidas eleitoreiras de Paulo Guedes serão suficientes para virar o jogo em favor de Bolsonaro, se os 10 dias que faltam serão suficientes. Eventuais novas "bondades" poderão influir na conta eleitoral.

A conta maior, a consequência desse pacote, só chegará em 2023.