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José Roberto de Toledo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Desigualdade despenca no mundo e cresce dentro de grandes países

Colunista do UOL

15/06/2023 21h26

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A desigualdade global não era tão baixa desde o final do século 19. Embora ainda seja muito alto, o índice de Gini mundial é o menor em 125 anos. Ele despencou de 70 para 60 nos últimos 20 anos. Ao mesmo tempo, aumentou a desigualdade dentro de grandes países como Estados Unidos, Índia, Rússia e na maior parte da Europa.

O principal motor da queda da desigualdade global nessas duas décadas foi o crescimento da China, que tirou centenas de milhões de pessoas da pobreza nas últimas décadas. Mas é improvável que essa tendência global rumo a uma menor desigualdade se mantenha por muito mais tempo. Por vários motivos:

O crescimento chinês desacelerando;

À medida que enriquecem, menos chineses deixam de fazer parte da base da pirâmide de renda global e, portanto, a melhora de sua condição deixa de diminuir a desigualdade no mundo;

A desigualdade dentro da China está crescendo.

A renda média de um chinês em 1988 o colocava na metade de baixo da tabela mundial, entre os 45% mais pobres do mundo. Hoje, esse mesmo chinês médio está entre os 70% mais ricos.

Desigualdade global - Reprodução - Reprodução
Desigualdade global atingiu menor patamar nos últimos 125 anos
Imagem: Reprodução

Tão significativo quanto isso, os chineses estão ocupando o topo da pirâmide global de renda. Se o país continuar crescendo três pontos percentuais anuais a mais que os EUA, em duas décadas haverá tantos milionários chineses quanto americanos. Isso vai mudar a balança de consumo e de comportamento, com impactos culturais profundos.

O coeficiente de Gini varia de 0 a 100 e, quanto menor, melhor, sendo atribuído zero ao cenário em que todos tenham a mesma renda e 100 se um único indivíduo concentrasse toda a renda. No índice global, a comparação é entre as rendas dos países, enquanto o nacional considera a dos cidadãos.

Durante o programa Análise da Notícia, o colunista do UOL José Roberto de Toledo destacou ainda que, apesar da desigualdade ter caído em um contexto global, apenas em poucos países da América Latina houve, de fato, uma queda na desigualdade da população. A desigualdade dentro do país cresceu na Europa Ocidental, nos Estados Unidos, na China e na Rússia. Na América Latina, a queda da desigualdade foi puxada, sobretudo, por programas de distribuição de renda.

Expectativa de desaceleração. Após o índice de Gini despencar 10 pontos nos últimos 20 anos, a expectativa é que, com crescimentos mais modestos do PIB chinês, a queda não continue. A esperança para a tendência ser mantida é que a Índia, país mais populoso do mundo, passe por um processo de crescimento econômico semelhante ao chinês, ou que a África saia da pobreza majoritária que sua população enfrenta hoje.

Turbulência política, polarização e crescimento da extrema-direita. A mudança de patamar econômico da população chinesa ajuda a explicar o atual contexto global. A população de classe média da Europa e dos Estados Unidos passou a ter mais dificuldades econômicas e acabou perdendo frente a outros segmentos do mundo. Isso ajuda a explicar a turbulência política, a polarização e o crescimento da extrema-direita em muitos países.

Desigualdade diminuiu no Brasil. Seguindo a tendência global, a desigualdade também diminuiu nos últimos anos e hoje está pouco acima de 50 pontos, abaixo da média global que é de 60. Apesar de ainda estar longe de ser um país igualitário, essa queda na desigualdade aconteceu, sobretudo, devido aos programas de distribuição de renda como o Bolsa Família.

*As informações deste texto foram publicadas originalmente pelo economista Blanko Milanovic na revista Foreign Affairs (The Great Convergence: Global Equality and Its Discontents).

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O Análise da Notícia vai ao ar às terças, quartas e quintas, às 19h.

Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.

Veja a íntegra do programa: