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Josias de Souza

Centrão ambiciona a poltrona de Rodrigo Maia

Sessão da Câmara
Imagem: Sessão da Câmara

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O centrão antecipou em mais de um ano o debate sobre a sucessão de Rodrigo Maia. Fiel da balança na votação da reforma da Previdência, o grupo já não se satisfaz com o papel de intermediário. Desprezado por Jair Bolsonaro, equipa-se para posicionar um dos seus membros na disputa pela presidência da Câmara, que ficará vaga em fevereiro de 2021. Se a articulação for bem-sucedida, o centrão controlará diretamente a pauta da Câmara no último biênio do mandato de Bolsonaro.

Longe dos refletores, dois deputados se insinuam aos colegas como candidatos: o alagoano Arthur Lira e o paraibano Aguinaldo Ribeiro. Ambos pertencem aos quadros do PP. A legenda frequenta o escândalo do petrolão como sócia do PT no assalto às arcas da Petrobras. No último mês de junho, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal enviou ao banco dos réus quatro parlamentares do PP. Entre eles Lira e Ribeiro. São acusados de formar uma organização criminosa.

Sem o mesmo contencioso criminal, corre por fora o deputado amazonense Marcelo Ramos. Ex-membro do PCdoB, filiou-se ao antigo PR, rebatizado de PL. Embora cumpra o seu primeiro mandato federal, destacou-se como presidente da comissão que tratou da reforma da Previdência. No momento, preside a comissão sobre a emenda constitucional que restabelece a prisão de condenados na segunda instância. Conforme já noticiado aqui, articula-se a ressurreição da regra derrubada pelo Supremo, mas apenas para os casos futuros —o que exclui a Lava Jato.

Líder do DEM, o baiano Elmar Nascimento participa de reuniões semanais de Maia com o centrão. Observa a movimentação do grupo com ares de quem supõe que o tiroteio, por precoce, pode produzir tantas vítimas que será necessário buscar um outro nome —no caso, o seu. Além dos vínculos com Maia, Elmar é próximo do prefeito de Salvador e presidente do DEM, ACM Neto. Seu principal trunfo junto aos colegas é o aceno de repetir no comando da Câmara o rigor de Maia no cumprimento de acordos.

O poderio do centrão não é negligenciável. Integram o grupo PP PL, PSD, PRB, PTB, PROS, Solidariedade, PSC e MDB. Juntas essas legendas somam pouco mais de 200 votos. Nada é decidido na Câmara sem o aval do grupo. Ao longo do primeiro ano de mandato de Bolsonaro, o centrão juntou-se ao PSL e ao DEM sempre que quis aprovar propostas de interesse do governo. Para impor derrotas a Bolsonaro, o centrão aliou-se ao PT e seus satélites.

Estigmatizado por Bolsonaro, o centrão não fica com raiva. Fica com tudo. Operando em sintonia com Rodrigo Maia, com quem se reúnem semanalmente, os líderes do grupo foram protagonistas da marcha do Legislativo rumo ao Orçamento da União. Por meio de emenda constitucional, os parlamentares impuseram ao Planalto o pagamento obrigatório de nacos do Orçamento apropriados por bancadas para realizar investimentos nos estados.

Para o ano de 2020, líderes do centrão planejam administrar com parcimônia a votação das reformas econômicas pós-Previdência. Num cálculo eleitoreiro, receiam fortalecer o projeto reeleitoral personalista de Bolsonaro. Alguns deputados farejam os perigos desse tipo de estratégia. "Não posso torcer para 12 milhões de brasileiros continuarem desempregados porque não quero que o Bolsonaro fique bem", diz Marcelo Ramos. "É preciso ter espírito público."

"É claro que Bolsonaro pode se beneficiar de reformas que impulsionem a economia", ecoa Elmar Nacimento. "Mas não dá para brincarmos com a economia do país por conta de eventual benefício político ao presidente. Se Bolsonaro deixasse de atrapalhar, talvez já tivesse assegurado a reeleição em primeiro turno. A economia já estaria crescendo muito mais se Bolsonaro não atrapalhasse".

Deve-se a antecipação do debate sobre a sucessão interna do Legislativo a uma articulação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Reza a Constituição que os presidentes das duas Casas legislativas não podem se recandidatar aos cargos numa mesma legislatura. Mas Alcolumbre ambiciona permanecer na poltrona. Algo que exigiria a aprovação de uma emenda constitucional.

As chances de êxito seriam maiores se Rodrigo Maia se unisse a Alcolumbre. Mas ele, rodeado de pretendentes ao trono da Câmara, hesita. Mesmo em diálogos privados, Maia afirma que não cogita reivindicar novamente o cargo. Na Casa vizinha, senadores começam a erguer barricadas contra as pretensões reeleitorais de Alcolumbre. Ali, ensaia entrar na disputa o senador amazonense Eduardo Braga, outro cliente da Lava Jato. A senadora Simone Tebet, refugada pelo MDB na sucessão passada, é vista como alternativa por um pedaço do Senado.

Errata: este conteúdo foi atualizado
O nome do deputado é Aguinaldo Ribeiro, e não Agnaldo Nogueira. O texto foi corrigido