Taxa de mortalidade ministerial sobe para 31,8% no governo Bolsonaro
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Jair Bolsonaro costuma se vangloriar de ter montado um ministério técnico e eficiente. Entretanto, o presidente parece empenhado em se autodesmentir. A decisão de acomodar o general Walter Braga Netto na Casa Civil, no lugar de Onyx Lorenzoni, e transferir este para a poltrona de Osmar Terra na pasta da Cidadania eleva a taxa de mortalidade ministerial de Bolsonaro para 31,8%. O índice é 16 vezes superior ao da letalidade do coronavírus, de 2%.
Mal comparando, frequentar gabinetes na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, passou a ser mais arriscado do que viajar para a China. Confirmadas as novas mexidas, serão sete baixas num time de 22 ministros, em pouco mais de 13 meses.
A mortalidade cairia de 31,8% para 27,1% se fosse levado em conta que Onyx, embora debilitado, está apenas sendo transferido de uma enfermaria para outra. Mas o redutor perde o sentido quando se considera que, no Planalto, a pasta da Secretaria-Geral já triturou dois ministros: Gustavo Bebianno foi trocado pelo general Floriano Peixoto, desovado posteriormente na presidência dos Correios, para dar lugar ao atual ministro Jorge Oliveira, um major aposentado da PM de Brasília.
A chegada do general Braga Neto transforma a trincheira da Presidência num território 100% militar. O provável substituto de Onyx terá atuação estritamente administrativa. No papel, a coordenação política, subtraída da Casa Civil, permanecerá a cargo do general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), que substituiu no ano passado o também general Carlos Alberto Santos Cruz.
Na prática, embora Luiz Ramos seja jeitoso, o trabalho pesado da articulação com o Legislativo deve ser executado pelo ex-deputado tucano Rogério Marinho. Ele acaba de ser deslocado da Secretaria de Previdência do Ministério da Economia para a poltrona de ministro do Desenvolvimento Regional, de onde Bolsonaro ejetou Gustavo Canuto. O talento de Marinho no trato político, comprovado na articulação que levou à aprovação da reforma da Previdência, terá agora o anabolizante do orçamento de uma pasta que celebra convênios com Estados e municípios.
A despeito das habilidades de Marinho e do fino trato do general Ramos, os modos de Bolsonaro desautorizam previsões sobre reviravoltas no relacionamento com o Legislativo. O capitão ostenta a incômoda posição de comandante sem tropa no Congresso. No primeiro ano de governo, conseguiu brigar até com seu próprio partido, o PSL. Ganha uma viagem só de ida para a cidade chinesa de Wuhan quem for capaz de antecipar a próxima crise.
Onyx Lorenzoni revelou-se um fiasco político e gerencial. Mas o maior erro que poderia ser cometido no momento seria atribuir ao personagem a responsabilidade pela transformação da articulação política num latifúndio improdutivo que os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, invadiram. A fatura do distanciamento está sendo cobrada no Orçamento da União para 2020.
Pela primeira vez, o Legislativo beliscou uma fatia maior do que o Executivo no bolo de recursos destinados a investimentos. Os parlamentares se autoatribuíram poderes para definir onde, quando e como investir R$ 22,1 bilhões. O governo daria a palavra final na aplicação de R$ 17,4 bilhões. Manejando o poder do veto, Bolsonaro tenta recuperar R$ 11 bilhões. Uma ameaça dos congressistas de derrubar o veto arrastou o governo para uma mesa de negociação que deve durar até depois do Carnaval.
As novas mexidas promovidas por Bolsonaro não resolvem todos os problemas da Esplanada. Permanecem no governo ministros cuja incompatibilidade com os cargos desafia a lógica. Por exemplo: Ricardo Salles, o antiambientalista a quem Bolsonaro confiou a pasta do Meio Ambiente; e Abraham Weintraub, o fiasco que sucedeu na pasta da Educação o desastre anterior Ricardo Velez Rodríguez.
Indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público, o administrador do laranjal do PSL de Minas Gerais, Marcelo Álvaro Antônio, também permanece na poltrona de ministro do Turismo como uma nova demissão esperando para acontecer. Mantido o ritmo atual, o símbolo do governo Bolsonaro será uma porta giratória.
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