Brasil busca consenso mínimo no G20 para evitar macrofiasco
Lula sabe que a eleição de Trump comprometeu o plano de fazer da cúpula do G20, no Rio de Janeiro, uma apoteose sob a presidência do Brasil. Sabe também que precisa atenuar o prejuízo. A redução dos danos depende da capacidade de Lula de agir rapidamente para colocar as assinaturas dos líderes das maiores economias do mundo dentro de um comunicado que traduza um consenso mínimo.
A concordância pode ser mínima como uma agulha de Pickering, disse um diplomata brasileiro que participa das negociações. Referia-se à agulha de safira usada no século passado para reproduzir nas falecidas vitrolas música em alta fidelidade, sem o chiado dos discos. Inventada pelo americano Norman Pickering, em 1945, a agulha de vitrola era do tamanho de uma cabeça de alfinete.
São três os temas caros ao Brasil: combate à fome, emergência climática e reforma da governança global. Há pendências de redação em trechos delicados. Nações ricas torcem o nariz para a ideia de taxar grandes fortunas. Países aliados da Rússia e Israel, por exemplo, se desentendem ao redor dos parágrafos que tratam das guerras na Ucrânia e em Gaza.
O G20 não aprova leis. Suas decisões são compromissos políticos. O comunicado final é uma carta de intenções. Que passará a valer pouco, muito pouco, quase nada depois que Trump retornar à Casa Branca, em janeiro de 2025. Ele tende a ignorar acertos firmados por Joe Biden no Rio em matéria de clima, tributação de bilionários e comércio internacional.
No G20, a unanimidade é primordial. Sem ela, o comunicado perde densidade política. Tornou-se ainda mais relevante diante da necessidade de estabelecer um contraponto civilizatório às posições de Trump. Javier Milei percorre as negociações do Rio à procura de encrenca. Age como um mini-Trump. Virou estorvo da cúpula. Um comunicado flácido será ruim. Um texto fragmentado, bem pior. A falta do consenso mínimo representaria um macrofiasco.
Deixe seu comentário