Bolsonaro vira página do golpe de 64... Para trás
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Em mais um aniversário do golpe de 1964, Jair Bolsonaro saudou a data como "grande dia da liberdade". Faltou definir liberdade, que, naquela fase, não existia senão como uma lamentável negligência das autoridades.
Bolsonaro tem uma visão peculiar da história. Ele já declarou que "não houve ditadura no Brasil", porque "uma ditadura não entregaria o governo para a oposição."
Aceitando-se como verdadeira a versão extravagante do capitão, será necessário concluir que jamais houve ditadura também em países como Espanha e Chile. Ou na velha União Soviética.
A história mostra que a deposição de João Goulart foi saudada pela imprensa e festejada nas ruas. Entretanto, quem imaginou que os militares desejavam consertar a democracia perdeu a ilusão quando foi editado o Ato Institucional que passou mandatos na lâmina, mandou direitos políticos para o beleléu e enviou ao olho da rua magistrados e servidores.
Em reação, terroristas a certa altura foram à sorte das armas. O regime respondeu abrindo nos porões da República uma máquina de tortura e execuções. A pancadaria e o extermínio viraram políticas de Estado. O regime matou inclusive quem não pegou em armas.
Bolsonaro já chamou a tortura e as execuções de pequenos problemas. O presidente e seu vice, o general Hamilton Mourão, tratam o torturador Brilhante Ustra como herói da resistência.
A ditadura demora a virar história porque há gente como Bolsonaro e Mourão chamando tortura de probleminha e torturador de herói. Do outro lado, há quem sustente que a turma que foi às armas queria democracia, não uma ditadura com sinal invertido.
Essa é a história. Quem a conhece não celebra, lamenta. Ao tratar o aniversário do golpe como "grande dia da liberdade", Bolsonaro impede o país de olhar para a frente.
Quando vira a página para trás, o presidente desperdiça um tempo que poderia usar para escrever páginas novas e mais dignificantes. Mas dignidade é vocábulo que parece não existir no português bélico do capitão.
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