Flávio Bolsonaro ofende até o benefício da dúvida
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O senador Flávio Bolsonaro vai se tornando um personagem paradoxal. A cada vitória judicial que ele conquista, fica mais parecido com um culpado. O primogênito do presidente da República revela-se capaz de tudo, menos de apresentar uma defesa consistente o bastante para enfrentar o mérito das acusações que fazem dele uma biografia em processo de decomposição.
Flávio pleiteava no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro duas coisas: foro especial e anulação do processo da rachadinha, com tudo que tem dentro dele —provas e decisões judiciais. Obteve uma vitória parcial. Conseguiu transferir a encrenca da mesa do juiz de primeira instância Flávio Itabaiana para o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio, composto por 25 desembargadores. Essa migração é um escárnio.
A defesa de Flávio Bolsonaro alegou que ele tem foro privilegiado, porque era deputado estadual quando os crimes de que é acusado aconteceram. Por dois votos a um, a terceira turma do Tribunal de Justiça deu razão aos advogados do filho do presidente. A decisão é um escárnio porque não encontra respaldo na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
O ministro Celso de Mello, decano da Suprema Corte, acaba de enviar para a primeira instância, o processo em que Abraham Weintraub é acusado de racismo. Fez isso porque Weintraub não é mais ministro da Educação. Portanto, perdeu a chamada prerrogativa de foro. Flávio Bolsonaro não é mais deputado estadual. Portanto, deveria ser julgado na primeira instância.
A vitória foi parcial porque permanecem intactas, por enquanto, as provas reunidas no processo e as decisões do juiz Itabaiana, incluindo a prisão de Fabrício Queiroz e o mandado que faz da mulher dele, Márcia Oliveira, uma foragida. Mas os advogados de Flávio já anunciaram que irão reiterar o pedido de anulação das provas, agora perante o Órgão Especial do Tribunal. Ali, será sorteado um relator.
Nas mãos do doutor Itabaiana, um juiz que mastiga abelhas, Flávio comia o pão que o Tinhoso amassou. Aos cuidados do futuro relator do Tribunal de Justiça, o Zero Um espera receber brioches. A tenacidade com que Flávio foge das explicações já ofende até o benefício da dúvida.
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