Topo

Josias de Souza

Pandemia judicial de Bolsonaro não é gripezinha

Colunista do UOL

09/07/2020 19h58

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Ao desligar da tomada páginas, grupos e contas operadas por prepostos e aliados dos Bolsonaro, o Facebook deu ao presidente do Brasil e aos seus filhos a aparência de uma organização familiar que financia com verbas públicas a disseminação nas redes sociais de desinformação e ódio contra adversários. E deu ao Planalto uma aparência de sede da indústria da raiva. Os operadores da rede bolsonarista ocultavam a identidade. E utilizavam métodos que ludibriavam a plateia, fazendo crer que existia uma multidão onde não havia senão meia dúzia de mãos mal-intencionadas.

O dono de uma dessas mãos se chama Tércio Arnaud Tomaz. Operava para Bolsonaro nas redes sociais durante a campanha eleitoral de 2018. Desde janeiro de 2019, trabalha numa sala do terceiro andar do Planalto, a poucos metros do gabinete presidencial. Isso torna Jair Bolsonaro devedor de meia dúzia de explicações sobre o que se passa debaixo do seu nariz. Por ora, falaram apenas os filhos do presidente e parlamentares aliados. Acusam o Facebook de perseguição e cerceamento à liberdade de expressão.

Os Bolsonaro e seus aliados precisam atualizar o discurso. O gabinete do ódio bolsonarista foi mapeado no âmbito de uma auditoria internacional feita em 11 países. Coisa solicitada pelo próprio Facebook, que não é uma organização comunista. Age porque foi pressionado por grandes conglomerados econômicos, que não estão dispostos a financiar ódio e mentiras. No mês passado, o WhatsApp já havia bloqueado um lote de contas do PT.

No caso do bolsonarismo, o conteúdo, por ora, é menos relevante do que o método. O tema em debate não é liberdade de expressão. O que os Bolsonaro reivindicam é a liberdade de empulhação. O material do Facebook será anexado ao inquérito sobre notícias falsas que corre no Supremo Tribunal Federal. Depois de esmiuçado pela Polícia Federal, pode ser enviado ao TSE, onde correm ações que pedem a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão.

Semanas atrás, quando parecia que estava fora de controle, Jair Bolsonaro trocou a teatralidade radical pela cenografia da moderação. Notou que os Bolsonaro, às voltas com inquéritos no Supremo, ações no TSE, uma rachadinha estadual e outra municipal, enfrentam algo muito parecido com uma pandemia judicial. Ainda não se sabe qual será a dimensão do estrago. Mas o surpreendente comedimento de Bolsonaro indica que não é só uma gripezinha.