Cueca frequenta política brasileira há 7 décadas
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Presente nos escândalos da esquerda e da direita, a cueca frequenta a crônica política no Brasil há sete décadas. O primeiro caso de cassação de um mandato parlamentar por falta decoro ocorreu em 1949. Envolveu um deputado chamado Barreto Pinto. Ele perdeu o mandato porque, numa entrevista à revista O Cruzeiro, se deixou fotografar em trajes inusuais. Fez pose no gabinete e numa banheira. Da cintura para cima, vestia fraque. Para baixo, estava de cuecas -um modelo samba-canção. A cena foi considerada indecorosa.
Decorridos 71 anos, encontra-se na berlinda o senador Chico Rodrigues. Alguns detalhes tornam a situação do parlamentar do DEM menos glamourosa do que a de Barreto Pinto. O senador da cueca não fez pose para um repórter fotográfico. Foi filmado na marra pela Polícia Federal. As imagens ainda não vieram à luz. Mas a simples divulgação do relato policial deixou o senador pelado no centro de um escândalo que envolve o desvio de R$ 20 milhões em verbas da Saúde que deveriam ter sido usadas no tratamento de vítimas do coronavírus.
Foram extraídos do interior da cueca do senador R$ 33,150 mil. "Próximo às suas nádegas", escreveu a Polícia Federal no seu relatório, havia R$ 15 mil em maços de notas de R$ 50. Na parte "frontal", R$ 17,9 mil, em novíssimas notas de R$ 200. Numa derradeira incursão à cueca, os agentes federais encontraram mais R$ 250. Afora os valores escondidos nas proximidades das ancas, foram apreendidos R$ 10 mil e US$ 6 mil num cofre dentro do armário do quarto do senador.
Em 2005, quando o escândalo era petista, a cueca escondia dólares. Mas o manequim, assessor do agora deputado federal do PT José Guimarães, não tinha mandato. Chico Rodrigues está em pleno exercício do mandato de senador. Mas alguns senadores têm dificuldades para cassar o mandato do colega ou referendar o afastamento por 90 dias determinado pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo. Muitos preferem aconselhar o cuequeiro a se licenciar voluntariamente do mandato.
A noção de decoro parlamentar mudou muito no Brasil. Antes, era inadmissível combinar fraque com cueca samba-canção. Hoje, em plena era da lavagem de capitais, há quem tolere um senador que suja dinheiro sob a cueca, entre as nádegas.
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