Armistício entre ideológicos e militares é ficcional
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O general Hamilton Mourão aplicou uma lógica da caserna à desavença que levou o ministro civil Ricardo Salles (Meio Ambiente) a chamar o ministro militar Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) de "banana de pijama" e "Maria fofoca". Na definição do vice-presidente, "os ministros são o Estado Maior do presidente." Se há alguma rusga, "o comandante tem que intervir e dizer: 'Vamos baixar a bolinha aí, vamos acalmar'."
Não se ouviu do "comandante" Jair Bolsonaro nenhuma palavra em público que sinalizasse a intenção de colocar ordem na Esplanada. Armou-se no final de semana uma coreografia para salvar as aparências. Numa nota, Salles disse ter pedido desculpas. Noutra, Ramos declarou que a questão está encerrada. E o hipotético comandante passeou de moto com "Maria fofoca."
Nada disso resolveu a questão de fundo. Continuam coabitando o governo dois grupos que não suportam um ao outro: a ala ideológico-apocalíptica, adorada por Bolsonaro e apoiada pelos filhos Eduardo e Carlos; e a banda militar, que já não sabe onde se apoiar.
Aos pouquinhos, os generais vão se tornando asteriscos humilhantes. Bolsonaro os humilha, como fez com o general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, ao desautorizar um acordo que havia avalizado. O presidente permite que os generais sejam humilhados, como fez no ano passado com Carlos Alberto dos Santos Cruz e, agora, com Ramos, sucessor dele na coordenação política. Os generais humilham-se a si mesmos ao não traçar um limite para a dieta de sapos que engolem regularmente.
Até outro dia, o general Augusto Heleno (GSI), um dos comandantes de escrivaninha do Planalto, cantava em convenção partidária que, se gritar pega ladrão, não fica um do centrão. Agora, o bloco ideológico atribui a Luiz Eduardo Ramos e à ala militar o acerto do presidente com o centrão. E Bolsonaro, que levou a barriga ao balcão voluntariamente, se finge de morto, estimulando a desavença que dá ao governo uma aparência de balbúrdia.
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