Urnas asfaltam trilha da Lava Jato rumo ao forno
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Os partidos que mais elegeram prefeitos foram: MDB, PP, PSD, PSDB e DEM. Todos têm algo em comum: em maior ou menor grau, são fornecedores de matéria-prima para a Lava Jato. Do ponto de vista estritamente estético, foi uma derrota. Sob o ângulo ético, pode ser um retrocesso.
Os partidos se equipam para aumentar suas bancadas federais. Nos próximos dois anos, cavalgarão as máquinas municipais para elevar o número de assentos no Congresso, sobretudo na Câmara. Ali, a quantidade de cadeiras serve de critério para o rateio das verbas milionárias de dois fundos: o partidário e o eleitoral.
Mal comparando, acontece na política algo parecido com o que ocorre na pandemia. A exemplo do coronavírus, que inicia no Brasil uma segunda onda de contágio antes que a primeira onda desaparecesse, algumas legendas engatam um segundo ciclo de perversões sem que o ciclo anterior se fechasse.
Após uma temporada de encenação, Jair Bolsonaro aninhou-se no colo do centrão. Em troca de blindagem política, cedeu cargos e verbas orçamentárias. Não há sobre a mesa nada que se pareça com política pública. O próximo presidente da República, seja ele quem for, terá de lidar com a mesma engrenagem.
O modelo é conhecido e insidioso. Partidos com pouco acesso ao governo vendem favores legislativos a lobbies privados, enfiando jabutis em leis e medidas provisórias. Legendas que se acertam com o Planalto irrompem o noticiário ameaçando romper, pleiteando, pedindo, querendo...
Exigem que sejam destinados ao mercado da baixa política pedaços de ministérios, de autarquias e de estatais. Aboletam-se dentro de cofres bilionários, por vezes, pessoas de reputação duvidosa. De repente, passam a percorrer os escaninhos do estado interesses privados e propósitos escusos.
Imaginou-se que, após seis anos de Lava Jato, a colocação de nacos do estado a serviço do clientelismo e do fisiologismo se transformaria em coisa do passado. Mas o esforço anticorrupção frequentou a campanha eleitoral como uma pauta órfã.
Mercê dos próprios erros e do esfoço que uniu Bolsonaro, os encrencados do Congresso e um pedaço do Supremo, a Lava Jato já cambaleava. As urnas terminaram de pavimentar a trilha que leva a operação ao forno.
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