Torcida de Lula por Kamala é desnecessária, inútil e ilógica
Em entrevista a uma emissora de TV francesa, Lula revelou-se simpático à candidatura de Kamala Harris. Disse que, como "amante da democracia", está "torcendo" contra Donald Trump. Pelo bem da democracia dos Estados Unidos e do planeta. A manifestação soou desnecessária, inútil e ilógica.
Foi desnecessária porque ninguém ignora a aversão que Lula nutre por Trump. Não é o único. Outros chefes de Estado ao redor do mundo receiam a volta do grotesco ao Poder. A declaração foi inútil porque o poderio de Lula como cabo eleitoral tornou-se discutível até no Brasil. Sua simpatia não renderá um mísero voto para Kamala.
A torcida de Lula é ilógica porque ainda que a eventual vitória de Trump convertesse a Casa Branca em sucursal do inferno na Terra, o governo brasileiro teria que dialogar com o capeta. Por uma singela razão: além da ostentar o status de maior potência mundial, os Estados Unidos ocupam a segunda posição no ranking dos principais parceiros comerciais do Brasil.
A contaminação da política externa pelo veneno da ideologia e do personalismo expõe o Brasil a riscos desnecessários. Vão para o beleléu princípios cultuados há um par de séculos pelo Itamaraty. Princípios como o de não intervenção em assuntos domésticos de outros países e de independência nacional, por exemplo.
O efeito do contágio é o surgimento de uma diplomacia em que as simpatias pessoais prevalecem sobre os interesses de longo prazo do país. Lula parece ignorar que países como os Estados Unidos raciocinam em termos de interesses, não de afinidades ideológicas.
Sob Bolsonaro, a submissão do Planalto à Casa Branca roçou a idolatria. Alheio ao culto do capitão à sua personalidade, Trump não hesitou em impor barreiras à siderurgia brasileira. Não cabe ao Brasil senão preservar os princípios que salvaguardam o interesse nacional, sejam quais forem as mudanças conjunturais intenas ou externas. Esse modelo pede profissionalismo, não torcida.
Opinião
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