Josias de Souza

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Opinião

Incluir vaga no TCU em sucessão da Câmara é cúmulo da zombaria

Numa entrevista à Folha, Arthur Lira confirmou em voz alta o que era apenas sussurado nos subterrâneos. Ao negociar o apoio de sua bancada à candidatura do deputado Hugo Motta para a presidência da Câmara, o PT "solicitou" e obteve o compromisso de indicar um nome para ocupar uma vaga de ministro do Tribunal de Contas da União.

Do nada, surgiu uma sinecura embaixo da camada fina de verniz que recobre o discurso petista da busca da governabilidade. O diabo é que não há entre os nove ministros do TCU quem esteja na bica de vestir o pijama. Nova aposentadoria, só em 2026.

Para êxtase do petismo, o rei Arthur sempre dispõe de uma gambiarra. Cogita-se nos bastidores convencer o ministro Augusto Nardes, um ex-deputado bolsonarista do PP de Lira, a antecipar sua aposentadoria. Hummmm...

Nardes ganhou o noticiário em novembro de 2022 quando sua voz soou num áudio vadio distribuído pelo WhatsApp para amigos do agronegócio. Na gravação, declarou, em timbre golpista, que "está acontecendo um movimento muito forte nas casernas". Previu um "desenlace muito forte", de consequências "imprevisíveis". Afirmou que Bolsonaro "certamente terá condições de enfrentar o que vai acontecer no país"

A Constituição prevê no artigo de número 80 que, em caso de impedimento do presidente e do vice-presidente da República, assume o Planalto o chefe da Câmara. Quer dizer: No escambo em que se converteu a escolha do substituto de Lira, o PT incluiu no rol de pré-condições para votar no próximo ocupante do segundo posto na linha de sucessão de Lula uma poltrona no TCU —sinecura vitalícia com salário mensal de R$ 37 mil, benefícios indiretos, mordomias e aposentadoria integral.

Como de hábito, o processo de sucessão interna da Câmara converteu-se num mercado persa. Barganha-se de tudo, de emendas orçamentárias a cargos na Mesa diretora e nas comissões. A coisa evolui para o cúmulo da zombaria com a inclusão nesse troca-troca habitual da vaga no TCU, onde costumam se aninhar políticos em fim de carreira e apaniguados sem vocação para o ofício de fiscal das contas públicas.

A zombaria descambará para o escárnio se a obtenção de uma poltrona para o futuro indicado do PT ficar pendurada numa antecipação da aposentadoria de Augusto Nardes, um bolsonarista de vitrine, adepto do golpe falhado do capitão.

Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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