Sentença do caso Marielle tem condenado invisível: o Estado
A condenação dos milicianos Ronnie Lessa e Élcio Queiroz lavou a alma. Mas não enxaguou. Depois do júri popular dos executores, falta o veredicto dos mandantes, a cargo do Supremo. De resto, há na sentença que manteve atrás das grades os matadores de Marielle Franco e Anderson Gomes um sujeito oculto: o Estado. É o maior culpado. E se finge de morto.
Há na trama da eliminação de Marielle dois tipos de bandido: a quadrilha da viatura e o bando do carro oficial. Das viaturas saíram os ex-PMs que executaram o crime. Marielle foi morta poucos dias depois da intervenção federal de Michel Temer na segurança do Rio. Hoje, sabe-se que o assassinato foi planejado e acobertado pelo chefe da polícia do Rio, escolhido pelo Exército.
Dos veículos oficiais vieram os mandantes: um conselheiro do Tribunal de Contas do estado e seu irmão, deputado federal. Segundo a Polícia Federal, Marielle foi passada nas armas porque atrapalhava a grilagem de terras dos irmãos Brazão. O empreendimento da ocupação ilegal de propriedades não existiria sem a omissão do Estado.
No instante em que o júri concluía a sentença no Rio, Cláudio Castro, o governador fluminense, participava de reunião com Lula no Planalto. Nela, o presidente expôs aos governadores o seu plano de segurança. Disse que, "logo, logo, o crime organizado vai estar participando de concurso, indicando juiz, procurador, político, indicando candidato."
Lula fala do futuro sem se dar conta de que o crime organizado está infiltrado nos três Poderes há muito tempo. A magistrada que presidiu o tribunal de júri fluminense disse que a sentença é dirigida também "aos vários Ronnies e vários Élcios que existem na cidade do Rio de Janeiro, livres por aí." Muitos desfrutam da liberdade acorrentados ao aparato estatal. Não é por acaso que o Rio tornou-se um narcoestado que tem 65% de seu território dominado pela milícia e 15% pelo tráfico de drogas.
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