Bolsonaro não tarda, não falha e não desconversa, ele apenas mente um pouco
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De passagem pela cidade de Propriá, na divisa de Sergipe com Alagoas, Jair Bolsonaro assumiu o compromisso de vacinar toda a população brasileira contra a Covid "em um curto espaço de tempo." Hã, hã.
Tempo, numa pandemia, não é dinheiro. É vacina. A procura por imunizantes é "muito grande", declarou Bolsonaro, antes de realçar que o governo já firmou compromissos com "vários laboratórios". Heimmm?!?!?
O Plano A era vincular a imagem do governo à prestigiosa logomarca de Oxford, colocar a Fiocruz para fabricar a vacina da AstraZeneca e iniciar a vacinação no alvorecer de 2021.
O Plano B era, era, era... Não havia Plano B. O capitão e seus generais não tinham nenhum plano de contingência. Tiveram de improvisar um Plano B em cima do joelho. Compraram às pressas do Butantan a "vachina" CoronaVac.
Vale a pena escutar Bolsonaro. Estufando o peito como uma segunda barriga, ele discursou em Propriá: "A Europa e alguns países aqui da América do Sul não têm vacina. E nós sabemos que a procura é muito grande."
Prosseguiu: "Nós assinamos convênios, fizemos contratos e compromissos, desde setembro do ano passado, com vários laboratórios. As vacinas começaram a chegar. E vão chegar, para vacinar toda a população em um curto espaço de tempo."
O que Bolsonaro fez no ano passado —em outubro, não em setembro— foi ordenar ao general Eduardo Pazuello, suposto ministro da Saúde, que rasgasse o contrato que previa a aquisição de 46 milhões de doses da "vacina chinesa do João Doria."
Em novembro, instado por Doria a dizer se compraria a vacina refugada por Bolsonaro, Pazuello respondeu como se estivesse no mundo da Lua: "Se houver demanda..."
Agora, o Butantan e o governo de São Paulo pedem à pasta da Saúde que informe até o final de semana se vai comprar um segundo lote com 54 milhões de doses da CoronaVac. E o ministério insinua que só vai decidir no final de maio.
De duas, uma: Ou Pazuello e sua equipe discordam de Bolsonaro —"A procura é muito grande..."— ou o governo federal decidiu provar ao mundo que é errando que se aprende... A errar.
Alguém precisa suspender o leite condensado servido no café da manhã do Alvorada. Do contrário, Bolsonaro continuará enxergando a terra arrasada da pandemia como uma conjuntura edulcorado.
O presidente se espanta cada vez menos. Suprimiu dos seus hábitos o ponto de exclamação. Os mortos da Covid já ultrapassaram a marca dos 220 mil e Bolsonaro não faz a concessão de uma surpresa.
No discurso de Sergipe, Bolsonaro voltou a pregar contra o isolamento social. "O povo brasileiro é forte, não tem medo do perigo", disse.
Na véspera, o orador havia declarado que a pandemia era coisa inventada. O capitão tornou-se um presidente sui generis. Não tarda, não falha e não desconversa. Só mente um pouco.
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