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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Falta uma palavra de Bolsonaro no debate social

Colunista do UOL

10/02/2021 20h15

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Bem alimentados, burocratas do governo e oligarcas do Congresso discutem há quase nove meses a criação de um programa social capaz de atenuar a fome e a miséria, dois flagelos que a pandemia agravou. A iniciativa chegou a ser batizada: Renda Brasil. Seria um Bolsa Família mais gordo. Chegaria aos bolsos dos necessitados em janeiro, nas pegadas do auxílio emergencial que ajudou a encher a geladeira até 31 de dezembro.

Com o Tesouro Nacional em ruínas, a despesa nova exigia o corte de gastos antigos. Desperdiçou-se todo o segundo semestre de 2020 procurando a resposta para uma interrogação: Onde passar o facão? Subverteu-se até o brocardo. Adotou-se o lema segundo o qual nunca se deve deixar para amanhã o que você pode deixar hoje. Alegou-se que a prioridade eram as eleições municipais. Depois, as eleições para as presidências da Câmara e do Senado.

A pandemia da "gripezinha" agravou-se. O auxílio emergencial sumiu. Passou janeiro. Fevereiro logo irá para o beleléu. E nada. Vendeu-se a ilusão de que o casamento de Bolsonaro com o centrão dissolveria os impasses. Engano. Paulo Guedes pede rigor fiscal. "Precisamos pagar por nossas guerras", diz o ministro da Economia. Os congressistas respondem que a fome não pode esperar. Puxa daqui, estica dali, já se ouve ao fundo um debate tóxico sobre a criação de imposto para financiar não um programa definitivo, mas uma nova rodada do auxilio emergencial.

Jair Bolsonaro frequenta o debate mais ou menos como o freguês que entra no restaurante, senta-se à mesa, lê o menu e diz ao garçom o que não quer comer. No ano passado, recusou-se a digerir o corte de benefícios sociais ou o congelamento do salário mínimo e de aposentadorias. Não vou tirar dos paupérrimos para dar aos pobres, disse. O presidente precisa abandonar a posição de espectador para informar aos garçons do centrão o que deseja. No presidencialismo, o presidente pode ser a imagem da tranquilidade ou o rosto da crise.