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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro se infecta com nova cepa de Pazuello

Colunista do UOL

23/04/2021 16h24

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Alheio aos quase 400 mil mortos por Covid e aos esforços dos operadores políticos do Planalto para imunizá-lo contra a CPI da Pandemia, Bolsonaro participou de uma inauguração sanitariamente incorreta nesta sexta-feira. Adornou com sua presença uma aglomeração bolsonarista em Manaus. Nela, embarcou numa segunda onda de Pazuello. Infectou-se com uma variante eleitoral da cepa fardada que desvirtuou a gestão da crise sanitária no Ministério da Saúde.

A quatro dias da instalação da CPI, com Pazuello a tiracolo, Bolsonaro fez menções elogiosas ao ex-ministro: "Conseguimos, com a equipe que nós temos em Brasília, colaborar em muito para que os danos dessa pandemia fossem diminuídos. Em especial, pelo ministro da Saúde que tive até há pouco tempo, o senhor Pazuello. Aqui presente, o ministro Queiroga, da Saúde, que dá prosseguimento ao seu trabalho."

A inauguração se converteu num desagravo a Pazuello. Elogiado também pelo ministro Gilson Machado (Turismo) —"Eu fui testemunha da luta desse homem pela erradicação da doença no nosso país"— e afagado pelo governador amazonense Wilson Lima (PSC) —"Quero fazer um agradecimento muito especial ao general Eduardo Pazuello..."—, o ex-ministro foi ovacionado por devotos do ex-chefe. Ao final, a plateia entoou o coro "Pazuello governador".

O local da celebração não foi escolhido por acaso. Pazuello é de Manaus. O colapso do sistema hospitalar na capital do Amazonas é um dos principais focos da CPI a ser instalada na próxima terça-feira. Vivendo a síndrome do que está por vir, Bolsonaro comentou: "Ninguém esperava que fosse acontecer".

Aconteceu o seguinte: Num instante em que pacientes morriam em Manaus por falta de oxigênio, uma equipe do então ministro Pazuello recomendava aos médicos do Amazonas o uso do kit-Covid, com Cloroquina e outros medicamentos ineficazes no combate ao coronavírus.

Entre os onze senadores que integram a CPI, dois são do Amazonas. Um deles, Omar Aziz (PSD), presidirá a investigação. Outro, Eduardo Braga (MDB), avaliza a indicação do correligionário oposicionista Renan Calheiros (MDB) para a função de relator da comissão.

Aziz e Braga compõem o G7, grupo majoritário da CPI, que reúne oposicionistas e independentes. Bolsonaro ainda não se deu conta. Mas o surgimento de uma variante eleitoral de Pazuello no Estado em que os senadores pedem votos talvez aumente o grau de independência dos representantes do Amazonas na CPI.