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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Apoio de Bolsonaro a Salles é desafio à lógica

Marcos Correa/Reuters
Imagem: Marcos Correa/Reuters

Colunista do UOL

21/05/2021 15h37

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A suspeição que ronda Ricardo Salles não alterou a relação de confiança que o ministro do Meio Ambiente mantém com Bolsonaro. Os dois continuam confiando cegamente um no outro.

Na sua live das noites de quinta-feira, Bolsonaro sinalizou a intenção de manter Salles no cargo como se nada tivesse sido descoberto sobre ele. Declarou que "Ricardo Salles é um ministro excepcional".

Nas palavras de Bolsonaro, o ministro enfrenta dificuldades "junto a setores aparelhados do Ministério Público", apinhado de "xiitas ambientais". Essa avaliação reforça a impressão de que sempre que o capitão se apropria de uma notícia, os fatos se perdem para sempre —até para os protagonistas do acontecimento.

O Ministério Público não participou do cerco a Ricardo Salles. O ministro foi alvo de operações de busca e apreensão determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo. Apura-se a suspeita de corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e facilitação de contrabando de madeira.

Num ponto o presidente tem razão: o Ministério Público está aparelhado. O procurador-geral Augusto Aras pertence ao aparelho do Planalto. Foi excluído da operação contra Salles porque já havia arquivado o caso uma vez. Receava-se que repetisse o gesto, abortando as batidas policiais.

Ao recobrir Salles de elogios, Bolsonaro disse que ele é responsável também por ajudar o campo a produzir mais. "Não é só a ministra Tereza Cristina", declarou.

Já que não cogita afastar o auxiliar crivado de suspeitas, Bolsonaro deveria considerar a hipótese de promover uma troca de pastas. Tereza Cristina costuma fazer hora extra para evitar que a política antiambiental do governo prejudique o agronegócio brasileiro.

Se Ricardo Salles preocupa-se com a produção do campo, talvez fosse mais adequado acomodá-lo na poltrona de ministro da Agricultura, transferindo Tereza Cristina para o Meio Ambiente. Até os arranjos impensáveis começam a parecer razoáveis diante do inquebrantável apoio de Bolsonaro a Salles, um desafio à lógica.