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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro discursa sobre honestidade com a suspeição de Salles a tiracolo

12.jun.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em "motociata" em São Paulo - Fepesil, Antonio Molina, Bruno Rocha/Estadão Conteúdo
12.jun.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em "motociata" em São Paulo Imagem: Fepesil, Antonio Molina, Bruno Rocha/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

13/06/2021 14h14

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Uma das peculiaridades da personalidade de Bolsonaro se observa na moralidade do presidente. Embora sua Presidência já esteja com a imagem bem rachadinha, o capitão acredita que os corruptos estão sempre nos governos dos outros. Isso leva a situações cômicas como a que se verificou no motomício realizado neste sábado, em São Paulo.

Ao discursar para os motoqueiros de Cristo, o presidente voltou a declarar que não há corrupção ao seu redor. Afirmou que o governo "é honesto não por virtude, mas por obrigação." Bolsonaro levava a tiracolo o ministro Ricardo Salles, cuja gestão no Meio Ambiente devastou o ambiente inteiro dos dois inquéritos que correm contra ele no Supremo Tribunal Federal, ambos por negócios escusos com madeira ilegal.

Um dos inquéritos, relatado pelo ministro Alexandre de Moraes, está municiado com dados repassados por autoridades dos Estados Unidos. O outro, aos cuidados da ministra Cármen Lúcia, nasceu de uma notícia-crime protocolada na Suprema Corte pelo delegado Alexandre Saraiva, destronado do comando da Polícia Federal no Amazonas.

No caso conduzido por Moraes, apura-se a tentativa de socorrer madeireiros pilhados tentando enfiar madeira ilegal no mercado americano. No despacho em que autorizou batidas policiais nos endereços de Salles, o magistrado Moraes reproduziu um relato policial da PF.

Diz o seguinte: "A situação que se apresenta é de grave esquema criminoso de caráter transnacional. Esta empreitada criminosa não apenas realiza o patrocínio do interesse privado de madeireiros e exportadores em prejuízo do interesse público, notadamente através da legalização e de forma retroativa de milhares de carregamentos de produtos florestais exportados em dissonância com as normas ambientais vigentes entre os anos de 2019 e 2020, mas, também, tem criado sérios obstáculos à ação fiscalizatória do poder público no trato das questões ambientais com inegáveis prejuízos a toda a sociedade".

Na encrenca relatada por Cármen Lúcia, o delegado Alexandre Saraiva, que chefiada a PF no Amazonas desde 2017, acusa Salles de dificultar fiscalizações ambientais e exercer advocacia administrativa em favor de de desmatadores. Gente pilhada na maior extração ilegal de madeira de todos os tempos. Coisa de 200 mil metros cúbicos de toras. Mercadoria estimada em R$ 129 milhões.

Um presidente que não consegue explicar os R$ 89 mil que o operador de rachadinhas Fabrício Queiroz depositou na conta de sua mulher, que convive com um filho com dificuldades para informar de onde vieram os R$ 6 milhões que usou para comprar uma mansão em Brasília e que se exibe em praça pública ao lado de um ministro que a PF suspeita estar envolvido em "grave esquema criminoso de caráter transnacional"..., um presidente assim perde o nexo quando diz que não há corrupção ao seu redor. Bolsonaro desobriga todo mundo de fazer sentido.