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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

CPI da Covid fracassará por excesso de provas

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Colunista do UOL

15/09/2021 09h07

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A grande estrela do relatório final da CPI da Covid será Bolsonaro. O grupo de juristas que assessora a comissão, sob a coordenação do ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, atribuiu ao presidente pelo menos sete crimes.

Vai abaixo a relação:

1) Crime de responsabilidade, aquele que, em tese, leva ao impeachment;

2) Crime de epidemia;

3) Crime de prevaricação;

4) Crime contra a humanidade;

5) Infração de medida sanitária;

6) Charlatanismo;

7) Incitação ao crime.

Essa coleção de imputações é suficiente para transformar qualquer biografia em prontuário. Ironicamente, Bolsonaro se encarregou de produzir a maioria das provas que o incriminam.

Políticos convencionais escamoteiam os seus pecados. Mas Bolsonaro é um transgressor inusual e didático. Abdicou dos métodos tradicionais de ocultamento.

Bolsonaro percorreu o cenário da pandemia espalhando as pistas que agora facilitam a reconstituição dos seus crimes. Agiu com inusitado espalhafato.

Num trecho do documento repassado à CPI, os juristas empilham as evidências de desrespeito à vida que Bolsonaro deixou pelo caminho.

Mencionam a promoção de aglomerações, o desapreço às máscaras, a incitação à invasão de hospitais, o combate às medidas de proteção sanitária, o estímulo ao consumo de cloroquina, a insinuação de que vacinados virariam jacarés, a postergação da compra de vacinas...

Muitas CPIs dão errado porque não conseguem provar delinquências suspeitadas. Mas a fragilidade de uma investigação parlamentar não é a única forma de medir o fracasso de uma CPI.

A Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid corre o risco de passar à história como a primeira CPI a fracassar por excesso de provas.

Se a blindagem de Arthur Lira e Augusto Aras garantirem a Bolsonaro a impunidade, o país assistirá ao enterro de provas vivas.

Restará ao eleitor fazer justiça com o próprio dedo, na urna eletrônica de 2022.