Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Veja como seria a visita da inflação ao Alvorada
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— Jair, tem alguém lá embaixo.
— Hãããã?
— Lá embaixo. Tem alguém lá embaixo.
— Ora, não seja tola. Quem invadiria o Alvorada de madrugada?
— Estou dizendo. Ouvi um barulho.
— Você deve estar sonhan...
— Ó, ó... De novo. Ouviu agora? Não disse?
— Tá bom, tá bom. Vou ver o que é.
— Vou com você. Sozinha, aqui, não fico.
Michelle saltou da cama. O capitão, antes de levar os pés às havaianas, esticou o braço até a mesinha de cabeceira. Apanhou a pistola. Descendo as escadas, o casal deu de cara com o monstro. E a primeira-dama:
— Jair, você não disse que a inflação estava sob controle?
— Não, eu disse que um dos países que menos sofreu na economia com a pandemia fomos nós.
— É? E por que essa coisa está comendo os pés da mesa?
— Sei lá. Nada é tão ruim que não possa piorar. Culpa dos governadores.
— Acho bom fazer alguma coisa. Ela agora está comendo o sofá.
— Sabia que essa história de 'fique em casa' não acabaria bem.
— Jair, ela está olhando pra mim. Faça alguma coisa!
— Calma, Michelle. O Paulo Guedes explicou que ela costuma mastigar o salário dos mais pobres.
— Está vindo na minha direção, Jair.
— Não faça nenhum movimento brusco. Vou ligar pro PG.
O ministro abriu o jogo. Informou que o IBGE divulgaria ao amanhecer que a inflação de setembro bateu em 1,16%. A taxa acumulada em 12 meses rompeu a barreira dos dois dígitos: 10,25%.
Michelle não foi vista no Alvorada desde então. Oficialmente, diz-se que viajou. Mas suspeita-se que possa ter sido devorada.
A pasta da Economia jura que o monstro será amansado lentamente, fechando o ano em 8,5%. Ninguém acredita. A confiança nas previsões oficiais também foi engolida.
Embora não enxergue a imagem de um culpado no espelho, Bolsonaro já não dorme. A camareira disse ter visto a inflação mordendo o espelho do banheiro da suíte presidencial. O capitão monta guarda de madrugada. Há marcas de tiro na banheira e no vaso sanitário.
— No meu espelho ninguém mexe, talkey?
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