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Despolarização: Intervencionismo na Petrobras aproxima Bolsonaro do PT
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A inanição de votos da terceira via vitaminou a polarização Bolsonaro x Lula. A inflação de dois dígitos e os efeitos corrosivos do aumento dos combustíveis empurraram a Petrobras da editoria econômica para as páginas do noticiário político. O desespero para se dissociar da política de preços da estatal aproximou a Bolsonaro de Lula. Operou-se no debate sobre a Petrobras uma inusitada despolarização da disputa eleitoral.
Bolsonaro e Lula defendem a intervenção como saída para travar os preços dos combustíveis. A diferença está no método. Bolsonaro afastou na base da cotovelada três presidentes da Petrobras que ele mesmo havia indicado. Produziu muita confusão e alguma perda no valor de mercado da companhia. Lula sinalizou que, se estivesse nos sapatos do seu rival, teria revogado com "uma canetada" a política de preços da estatal. Com esse tipo de voluntarismo, Dilma travou os reajustes dos combustíveis, abrindo um rombo na contabilidade da Petrobras.
José Mauro Coelho, o penúltimo demitido por Bolsonaro, foi empurrado para fora da presidência da Petrobras debaixo de cacetadas verbais depois de patrocinar um novo reajuste da gasolina e do diesel enquanto aguardava pela análise das credenciais do substituto Caio Paes de Andrade. A primeira vítima das cotoveladas é a lógica. O maior beneficiário é o centrão. A lógica é golpeada porque, a pretexto de impor à Petrobras uma hipotética função social, a intervenção abre um trilha que conduz à subversão de regras e artigos legais criados para impedir a reincidência de dois efeitos nefastos da canetadas petistas: o aparelhamento político e do assalto aos cofres da Petrobras. O centrão é premiado porque, após participar do saque à estatal na era do PT, os salteadores ganham sob Bolsonaro a atribuição de defensores do consumidor contra a petroganância.
Na obra 'A Prisioneira', Marcel Proust (1871-1922) ensinou: "Habitualmente detestamos o que nos é semelhante e nossos próprios defeitos vistos de fora nos exasperam." Bolsonaro detesta Lula —e vice-versa. Na Petrobras, são muito assemelhados. Nenhum dos dois considera a sério a adoção de soluções reais. Por exemplo: o uso dos dividendos bilionários que o lucro da Petrobras rende ao governo para subsidiar o gás das famílias pobres e o diesel dos caminhoneiros autônomos.
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