Topo

Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Na votação da PEC eleitoral, caneladas e impedimentos viram gols do governo

Colunista do UOL

13/07/2022 09h49

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A votação da PEC eleitoral no plenário da Câmara ficou muito parecida com uma partida de futebol. Com algumas diferenças: as quatro linhas não estão demarcadas, a bola é quadrada, canelada e impedimento são contabilizados como gols de Bolsonaro e Arthur Lira, o supremo juiz, interrompe a partida sempre que há o risco de a oposição invadir a pequena área do Planalto.

Na semana passada, Lira interrompeu o jogo e deixou o plenário com a bola embaixo do braço ao perceber que o quórum reduzido permitiria à oposição retirar da PEC das bondades o estado de emergência. A partida foi reiniciada nesta terça-feira. A bola rolou até a aprovação em primeiro turno da emenda que autoriza o Tesouro Nacional a comprar por R$ 41 bilhões a passagem de Bolsonaro para o segundo turno da eleição. O placar de 393 a 14 tinha cheiro de goleada, pois o Planalto obteve 85 votos além dos 308 que precisava. O diabo é que parte do time governista marcou presença e abandonou o campo, no pressuposto de que poderia votar remotamente. De repente, Lira anunciou que os dois aplicativos que recolhem os votos remotos sofreram um apagão.

O plenário parecia cheio. Na votação seguinte, os deputados decidiriam se o estado de emergência seria mantido ou expurgado da PEC. Algo como 100 oposicionistas se equipavam para derrubar o artifício. Dessa vez, o Planalto não alcançaria a marca mágica dos 308 votos. Antes que o time de Lula pudesse bater o que seria o pênalti da noite, Lira chamou a Polícia Federal e suspendeu novamente a partida. O pretexto foi a necessidade de apurar a suspeita de fraude no sistema de votação remota. Conversa mole, já que o painel eletrônico do plenário funcionava perfeitamente.

O estado de emergência é um estratagema criado para que Bolsonaro possa atingir o subterfúgio de burlar a Lei Eleitoral. Essa lei proíbe a distribuição de dinheiro público às vésperas da eleição, exceto quando há calamidade pública ou emergência nacional. Ao remarcar para esta quarta-feira o reinício da partida, Lira avisou que contabilizaria a presença da véspera. Foi como se validasse antecipadamente um gol de mão do governo. Governistas que voaram para os seus estados flutuarão pelo plenário como fantasmas, podendo votar à distância. Ficou entendido que o apito final só iria soar quando Lira conseguisse entregar a Bolsonaro a PEC que autoriza o candidato à reeleição a elevar o Auxílio Brasil, dobrar o vale-gás, socorrer caminhoneiros e taxistas.