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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Omissão de Bolsonaro apressa a "desbolsonarização" de Tarcísio de Freitas

Colunista do UOL

06/12/2022 09h23

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Sem perceber, Bolsonaro transformou seu isolamento pós-eleitoral num processo de emancipação política de Tarcísio de Freitas. Na campanha, Tarcísio revelou-se uma alma permeável. Podia ser ele mesmo, mas também podia ser Bolsonaro. Essa mistura era fruto de estratagema, não de indefinição. Em 2022, não haveria Tarcísio sem Bolsonaro. Às vésperas de assumir o governo de São Paulo, Tarcísio declarou à CNN: "Nunca fui bolsonarista raiz." É como se a criatura, aproveitando-se da hesitação do criador, anunciasse em voz alta algo que Gilberto Kassab, seu novo operador político, já sussurrava nos bastidores: "Em 2026, haverá Tarcísio sem Bolsonaro."

Em tempos de Copa do Mundo, Tarcísio adota o comportamento de Vinícius Júnior. A exemplo do craque da seleção brasileira, o novo governador paulista se desloca pela esquerda do campo e pede preferência. Faz isso no pressuposto de que não lhe faltarão lançamentos procedentes do centro e da direita. Tarcísio foge de bola dividida: "Não vou entrar em guerra ideológica e cultural." Evita desentendimentos com juízes: "Vamos conversar com ministros do STF." E não confunde rivalidade com inimizade: "Quando for chamado [por Lula], depois da posse, vou lá sem problema nenhum. E quando entender que preciso recorrer a ele também".

Tarcísio vacinou-se contra a acusação de traidor. Disse ter "muita gratidão" pelo suporte de Bolsonaro. Contou ter alertado o criador sobre a "necessidade de ele sair do casulo, de se posicionar como liderança de centro-direita, [...] de fazer uma oposição responsável." Bolsonaro não se animou a aproveitar as oportunidades que lhe foram oferecidas pelas urnas. Acabou se transformando numa oportunidade que Tarcísio aproveita.

Gilberto Kassab, a quem o futuro governador deu mão forte para conduzir sua articulação política no posto de secretário de Governo conhece como poucos um antigo axioma: em política, o sujeito não pode estar tão próximo que amanhã não possa estar distante, nem tão distante que amanhã não possa se aproximar. Tarcísio não rompeu com Bolsonaro. Está apenas avisando ao eleitorado de direita que não precisa se se sentir órfão, porque há no maior e mais rico estado do país um novo governador em franco processo de "desbolsonarização."