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Josias de Souza

REPORTAGEM

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Vídeo que encrencou Bolsonaro foi postado por Carluxo, declara ex-ministro

Carlos Bolsonaro no Encontro Empresarial Brasil-Rússia, em Moscou - Alan Santos/PR
Carlos Bolsonaro no Encontro Empresarial Brasil-Rússia, em Moscou Imagem: Alan Santos/PR

Colunista do UOL

15/01/2023 02h51Atualizada em 15/01/2023 14h55

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Bolsonaro foi incluído como investigado no inquérito 4.921, que apura a "instigação e autoria intelectual dos atos antidemocráticos" que resultaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, graças ao compartilhamento de um vídeo no Facebook. "A decisão do Alexandre de Moraes foi injusta", disse à coluna um ex-ministro de Bolsonaro. "Quem realizou essa postagem foi o Carluxo."

O vídeo compartilhado pelo perfil de Bolsonaro exibia uma entrevista em que o procurador bolsonarista do Mato Grosso do Sul Felipe Gimenez difundia mentiras sobre as eleições de 2022. Gimenez afirmou que Lula foi "escolhido pelo serviço eleitoral e pelos ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral". Na legenda do post, lia-se o seguinte: "Lula não foi eleito pelo povo, ele foi escolhido e eleito pelo STF e TSE".

De acordo com o ex-ministro, Carlos Bolsonaro dispõe das senhas de todos os perfis mantidos pelo pai nas redes sociais. Ele teria compartilhado a postagem tóxica sem o conhecimento do ex-presidente. Ouvido sobre a nova versão, um magistrado do Supremo Tribunal Federal levou o pé atrás. Enxergou nas alegações uma "tentativa vã de construir um álibi" para Bolsonaro. Nessa hipótese, o filho Zero Dois seria "coautor do crime de incitação pública à prática de crime, previsto no artigo 286 do Código Penal."

A republicação do vídeo com notícias falsas sobre o processo eleitoral foi feita às 21h55 do dia 10 de janeiro, pouco mais de 48 horas depois da invasão dos prédios do Congresso, do Planalto e do Supremo por falanges bolsonaristas. O post foi apagado horas depois, na madrugada do dia 11 de janeiro. Àquela altura, porém, a peça já viralizava nas redes sociais.

No despacho em que deferiu o pedido da Procuradoria-Geral da República para incluir Bolsonaro no inquérito, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes anotou que a difusão de mentiras no Facebook do ex-inquilino do Planalto "se revelou como mais uma das ocasiões em que o então mandatário se posicionou de forma, em tese, criminosa e atentatória às instituições".

Moraes realçou que Bolsonaro "incorre nas mesmas condutas". Mencionou outros inquéritos que tramitam no Supremo. Entre eles os que investigam a atuação de milícias digitais, a disseminação de notícias falsas sobre vacinas contra a covid e o vazamento de investigação de ataque aos computadores do Tribunal Superior Eleitoral.

Moraes sustentou que Bolsonaro pode ter contribuído, "de maneira muito relevante", para insuflar os atos golpistas que depredaram prédios públicos na versão brasiliense do Capitólio. Para o magistrado, as "condutas" de Bolsonaro podem estar relacionadas com "intensas reações por meio das redes virtuais, pregando discursos de ódio e contrários às instituições, ao Estado de Direito e à democracia".

O ministro escreveu, a certa altura: "Efetivamente, a partir de afirmações falsas, reiteradamente repetidas por meio de mídias sociais e assemelhadas, formula-se uma narrativa que, a um só tempo, deslegitima as instituições democráticas e estimula que grupos de apoiadores ataquem pessoalmente pessoas que representam as instituições, pretendendo sua destituição e substituição por outras alinhadas ao grupo político do ex-presidente e, de maneira ainda mais grave, instiga que apoiadores cometam crimes de extrema gravidade contra o Estado Democrático de Direito, como aqueles ocorridos no dia 8 de janeiro de 2023."

A Procuradoria-Geral da República incluiu em sua ação um pedido para que Bolsonaro fosse intimado a prestar depoimento. A oitiva tornou-se incontornável. Mas Alexandre de Moraes preferiu adiá-la. "Diante das notícias de que o ex-presidente não se encontra no território brasileiro, o pedido de realização do interrogatório do representado Jair Messias Bolsonaro será apreciado posteriormente, no momento oportuno."

Em viagem à cidade de Orlando, nos Estados Unidos, Bolsonaro ainda não se manifestou sobre a decisão de Moraes. É improvável que o ex-presidente admita, em eventual depoimento à Polícia Federal, o envolvimento de Carlos Bolsonaro na postagem que motivou sua inclusão no inquérito sobre o ataque aos prédios da Praça dos Três Poderes. Em privado, Bolsonaro diz estar convencido de que Moraes, a quem chamou de "canalha", deseja prendê-lo. Avalia que Carluxo também está na mira do seu algoz.