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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Na diplomacia, Lula refaz em um mês o que Bolsonaro desfez em quatro anos

Colunista do UOL

30/01/2023 09h16

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A reunião entre Lula e Olaf Scholz aprofunda a guinada promovida na política externa brasileira desde a derrota de Bolsonaro. O que ocorre em Brasília nesta segunda-feira é um encontro da fome com a vontade de comer. A Alemanha de Scholz, maior economia da Europa, tem fome de novas fontes de energia e de matérias-primas. Mas não confiava em Bolsonaro nem para lavar os pratos. Sob Lula, o Brasil reintroduz no seu cardápio as generosas doações ambientais dos alemães. E não vê a hora de tirar do freezer o acordo Mercosul—União Europeia.

A boa vontade com o Brasil foi traduzida em cifras numa entrevista da ministra alemã da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento, Svenja Schulze. Ela disse à Folha que a Alemanha planeja doar ao Brasil R$ 1 bilhão nos primeiros cem dias de governo Lula. Além de reabastecer o Fundo Amazônia, do qual a Alemanha é a segunda maior doadora, a verba seria destinada a iniciativas sociais. Uma parte pode beneficiar a comunidade yanomami.

A generosidade alemã é aguçada pela necessidade. Dependente do gás e de minérios russos, a Alemanha viu-se forçada a buscar novos parceiros desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro do ano passado. Pária orgulhoso, Bolsonaro desperdiçou a oportunidade que Lula agora aproveita. Além de doações, a reativação das relações com a Alemanha pode render ao Brasil acordos comerciais que incluam transferência de tecnologia e o degelo do acordo entre Mercosul e União Europeia.

A movimentação ocorre uma semana depois da visita de Lula à Argentina, também desprezada por Bolsonaro, e ao Uruguai. Nesses primeiros dias de governo, Lula agendou um encontro com o presidente americano Joe Biden para 10 de fevereiro, marcou para março uma ida à China e negocia a visita do francês Emmanuel Macron a Brasília. Lula refez em um mês o que Bolsonaro havia desfeito em quatro anos.