Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A organização do crime é proporcional à esculhambação do Estado brasileiro
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A semana chega ao fim. Mas a onda de terror que o crime organizado deflagrou na terça-feira no Rio Grande do Norte continua. Não é a primeira vez que o caos e a violência transbordam das penitenciárias para as ruas de cidades brasileiras. Já aconteceu em São Paulo, no Ceará, no Amazonas... Infelizmente, não será o último surto. O Brasil já foi presidido por ditadores militares e por políticos de esquerda, de centro e de ultradireita. O empreendimento criminoso prevaleceu sobre todos os governos.
Mantidos na era medieval, os presídios tornaram-se filiais das holdings do crime. Presos, líderes de facções continuam dando as cartas. Recrutam atrás das grades a mão de obra que impulsiona os negócios nas ruas. O governo potiguar sustentava que os ataques a ônibus, prédios públicos e lojas em quase 40 cidades do estado seriam uma reação dos criminosos à eficiência das forças de segurança. Não é bem assim. A onda de terror teve origem nos maus-tratos carcerários. Inspeção federal realizada há quatro meses na penitenciária estadual de Alcaçuz detectou tortura, hiperlotação, comida estragada, sujeira e doenças.
No Rio Grande do Norte, a facção dominante tem o sugestivo nome de Sindicato do Crime. Quando criminosos presos mobilizam bandidos soltos para aterrorizar as cidades, um brasileiro honesto pode defender a pena de morte e a prisão perpétua. São pontos de vista legítimos. Mas não resolvem o problema. Apenas oferecem suporte popular para o discurso político demagógico. Quando o terror sai das manchetes, os demagogos mudam de assunto. Simultaneamente, crescem no Congresso e nas assembleias estaduais as bancadas da bala e das milícias.
A insegurança pública continuará crescendo enquanto não se generalizar na sociedade a seguinte percepção: Quando presos são tratados como bichos e a sentença criminal vira selvageria, aviltam-se os governos. A discussão sobre "humanização" das prisões e "ressocialização" de criminoso é coisa do século 18. O sistema carcerário brasileiro é como um doente hemorrágico na UTI. A cada nova convulsão, estados e União unem suas impotências. Necessárias e inevitáveis, as medidas emergenciais têm o efeito de um band-aid. Curativos pontuais não seguram hemorragias. A organização do crime é proporcional à esculhambação do Estado.
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