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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Medo do comunismo demonstra que Bolsonaro passou a ser assombração menor

Colunista do UOL

20/03/2023 09h26

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Convertido em cachorro morto há mais de três décadas, o comunismo ainda é visto como leão feroz por quase metade dos brasileiros. Pesquisa Ipec revela que 44% dos patrícios convivem com o receio da implantação de um regime comunista no Brasil. Se essa informação serve para alguma coisa é para demonstrar que todos os que se preocupam com o futuro político de Bolsonaro estão assombrados com o fantasma errado. O problema já não é Bolsonaro, mas a infecção ideológica que o bolsonarismo importou para o Brasil.

A mesma pesquisa informa que 41% aprovam o início do terceiro mandato de Lula. É menos do que ele obteve na largada dos seus dois mandatos anteriores. Mas supera os 34% que Bolsonaro obteve em março de 2019. A boa avaliação atribuída a Lula não impede que a maioria (57%) manifeste o desejo de dispor de uma nova liderança política, alguém capaz de livrar o país da polarização que marcou 2022. É como se a maioria enxergasse a conjuntura política como um latifúndio improdutivo que o centro democrático não consegue ocupar.

Na eleição presidencial do ano passado, os candidatos da chamada terceira via não somaram nem 10% dos votos válidos. No segundo turno, aderiram a Lula para evitar o desastre de uma reeleição de Bolsonaro. A carta de Bolsonaro deve ser retirada de 2026 pelo TSE. Mas ainda que o personagem fique inelegível, os valores que ele empinou continuarão infectando a conjuntura.

O eventual êxito da gestão Lula pode atenuar a infecção. Mas a endemia ideológica só será combatida adequadamente se a direita democrática conseguir construir uma liderança alternativa.

Num país em que quase metade da sociedade ainda não se convenceu da queda do Muro de Berlim, a verdadeira assombração é a cortina de ferro que se construiu nas redes sociais para aprisionar parte da consciência coletiva na década de 80.

A consciência é como apendicite. Só chama a atenção quando dói.