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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Drama psiquiátrico de Anderson ajuda Bolsonaro

                                Divulgação/Carolina Antunes/Presidência da República
Imagem: Divulgação/Carolina Antunes/Presidência da República

Colunista do UOL

24/04/2023 18h39

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O drama criminal de Anderson Torres ganhou um capítulo psiquiátrico. Preso há 100 dias, o ex-ministro da Justiça prestaria nesta segunda-feira depoimento à Polícia Federal. A defesa pediu e obteve o adiamento do interrogatório. Os advogados anotaram na petição que o "estado emocional e cognitivo" de Anderson, que já era "periclitante", sofreu uma "drástica piora" desde a semana passada, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes indeferiu seu pedido de liberdade.

Além de proporcionar um refrigério mental ao investigado, a postergação favorece os interesses processuais de Bolsonaro, que irá depor à Polícia Federal na quarta-feira. O capitão revela-se convencido, em privado, de que Alexandre de Moraes utiliza Anderson como escada para alcançar sua jugular. Avalia que o magistrado estica a estadia carcerária de Anderson para forçá-lo a incriminar o ex-chefe.

A saúde mental de Anderson se debilita na proporção direta do revigoramento dos processos mencionados por Xandão, como Bolsonaro se refere ao seu desafeto no Supremo, para mantê-lo encarcerado. Este seria o terceiro depoimento do ex-ministro da Justiça.

Anderson seria espremido por indagações sobre a operação realizada pela Polícia Rodoviária Federal para retardar o acesso de eleitores de Lula às urnas no segundo turno, sobretudo no Nordeste. Para Moraes, as investigações iluminam uma ação "golpista". Para Bolsonaro, busca-se mais um "pretexto" para encrencá-lo.

Ouvida pela PF dias atrás, a ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar, confirmou ter realizado por ordem de Anderson mapeamento para identificar as cidades onde Lula obteve mais votos no primeiro turno. O estudo norteou os bloqueios da Polícia Rodoviária.

A julgar pelo avanço das apurações, a depressão de Anderson Torres é o preço total, com juros e multas, cobrado pelo destino, de uma vez só, a quem não pagou durante a gestão Bolsonaro suas parcelas de parcimônia e recato. Para desassossego do capitão, a defesa de Anderson informou por escrito que seu cliente, "tão logo esteja recuperado, pretende cooperar para o esclarecimento dos fatos em apuração."