Josias de Souza

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Opinião

Chacina dá a Tarcísio chance de render homenagem à civilidade

Na incivilidade que marca a ação da polícia em comunidades pobres, o inaceitável marcha ao lado do inconcebível. Não é aceitável que um policial seja assassinado por um franco-atirador a serviço da bandidagem, como aconteceu com o PM Patrick Bastos Reis, na cidade paulista do Guarujá. Não se pode conceber que, em resposta a esse homicídio, a polícia adote práticas criminosas como a tortura e a execução de uma dezena de pessoas. Quando policiais se nivelam a bandidos, a segurança pública vira um torneio de facínoras.

O assassinato do PM Patrick resultou na deflagração da Operação Escudo. Foram às ruas da Baixada Santista 3 mil policiais militares. Moradores relataram à ouvidoria da polícia ter ouvido de policiais a promessa de matar pelo menos 60 pessoas em comunidades do Guarujá. Por ora, foram contabilizados dez cadáveres. O monturo pode subir para doze. O ouvidor Claudio Aparecido da Silva confirmou a denúncia de que um dos mortos foi torturado antes de ser passado nas armas por policiais.

O PM Patrick foi executado na quinta-feira da semana passada. A reação das forças policiais foi deflagrada na sexta. Na noite deste domingo, o governador paulista Tarcísio de Freitas correu ao Twitter para festejar a prisão do assassino do policial, na Zona Sul de São Paulo. Anotou que três envolvidos no caso estão atrás das grades. Assegurou que "nenhum ataque aos nossos policiais ficará impune". Exaltou o "trabalho de inteligência" da Polícia Militar e silenciou sobre a truculência atribuída aos policiais.

No ano passado, quando a PM do Rio de Janeiro pendurou nas manchetes 22 corpos chacinados na Vila Cruzeiro, o então presidente Bolsonaro criticou a imprensa por promover o que chamou de "inversão de valores" que "isenta o bandido" de responsabilidade pelos seus "crimes cruéis". É inusitada a lógica que busca na crueldade da bandidagem justificativas para a selvageria do Estado.

Se a selvageria estatal tivesse o efeito de dissuadir os bandidos, a frieza da vingança poderia ser apresentada como um fim prático para justificar os meios desumanos. Mas se a repetição das chacinas serve para alguma coisa é para demonstrar o plano da reciprocidade animalesca não está funcionando. Ainda há tempo para um reposicionamento de Tarcísio. Para começar, o governador pode ordenar à PM que exiba as imagens das câmeras que os policiais do Guarujá deveriam carregar grudadas ao uniforme.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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