A cada nova prisão, ressurge a mesma dúvida: E Bolsonaro?
Do ponto de vista jurídico, a prisão do ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques é mais uma fagulha para incendiar as redes antissociais bolsonaristas contra o Supremo Tribunal Federal. Sob a ótica política, o novo encarceramento potencializa a percepção de que o bolsonarismo desmedido transforma biografias em prontuários e dá cadeia.
Acuado pelas evidências de que conduziu no segundo turno uma operação para retardar o acesso de eleitores de Lula às urnas no Nordeste, Silvinei se junta a um seleto grupo que já inclui o tenente-coronel Mauro Cid, preso no QG do Exército com uma aparência de camelô de farda, e o delegado federal Anderson Torres, que arrasta sua reputação deformada e uma tornozeleira eletrônica em prisão domiciliar.
Todo escândalo tem uma fatalidade própria. A excentricidade do flagelo bolsonarista é a acefalia. A quadrilha do golpe é uma organização sem capo. Nesse enredo, Bolsonaro reivindica o papel de cego atoleimado. Finge desconhecer todas as perversões. Enquanto administra os R$ 17 milhões que os devotos lhe repassaram via Pix, o capitão diz torcer que os ex-auxiliares tenham como se explicar à Polícia Federal.
No tempo em que o Brasil ainda tentava fazer algum sentido, os valores pareciam mais nítidos. Bolsonaro era um messias onipresente e personagens como Silvinei, Cid e Anderson eram meros paus-mandados. Subitamente, a nitidez perdeu a função. Nada é o que parece. O mito virou um antilíder. A cada nova prisão, ressurge a mesma indagação incômoda: E o Bolsonaro?
O nome da Operação que prendeu Silvinei é Constituição Cidadã. O livrinho anota que todos são iguais perante a lei. Por ora, a impunidade dá a Bolsonaro uma aparência de invulnerabilidade que o torna mais igual do que seus subordinados.
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