Josias de Souza

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Opinião

Bolsonaro consolida-se como o melhor cabo eleitoral de Boulos

Banido das urnas pelo TSE até 2030, Bolsonaro já se autoproclamou "cabo eleitoral de luxo" nas eleições municipais de 2024. O Datafolha sinaliza que, na cidade de São Paulo, o feitiço do mito pode enfeitiçar ao contrário. O prenunciado apoio de Bolsonaro ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) pode ajudar a encher o cesto de votos do desafiante Guilherme Boulos (PSOL).

Quase sete em cada dez eleitores paulistanos (68%) declaram que jamais votariam num candidato a prefeito indicado por Bolsonaro. Apenas 15% informam que optariam "com certeza" pelo preferido do "mito". Entusiasta da candidatura de Boulos, Lula desperta uma ojeriza bem menor. Declaram que nunca votariam num candidato apoiado pelo presidente petista 37%. Em sentido inverso, 23% cultivam a certeza de que irão escolher o indicado por Lula.

No embate direto, o Datafolha revelou que Boulos está mais bem posto do que Nunes tanto na pesquisa estimulada (32% a 24%) quanto na espontânea (8% a 4%), quando o pesquisador não exibe aos entrevistados uma cartela com os nomes dos candidatos. Mas outros indicadores reforçam a percepção de que a disputa pela prefeitura da maior e mais rica cidade do país não pode ser vista como jogo jogado. Longe disso.

Faltando mais de um ano para a disputa, o paulistano ainda não está ligado no tema. Na aferição espontânea do Datalfolha, aquela em que o eleitor diz o que lhe vem à memória sem o estímulo de uma lista com os nomes dos postulantes, praticamente oito em cada dez pesquisados (72%) não conseguiram se lembrar de nenhum candidato de sua preferência à prefeitura. Declararam antemão a intenção de anular o voto ou votar em branco outros 7%.

Somando-se os desmemoriados com os revoltados, chega-se a um índice de 79% de eleitores sem candidato na aferição espontânea. Ou seja: a 14 meses da eleição, a cidade de São Paulo tornou-se uma espécie de latifúndio à espera de nomes que ocupem a ribalta. Nesse contexto, a diferença mora nos detalhes. Conta, por exemplo, o desempenho de Boulos na eleição municipal de 2020, quando perdeu para Bruno Covas no segundo turno.

Desde então, Boulos obteve uma composição com o PT, que deixará de lançar candidato à prefeitura de São Paulo pela primeira vez na história. O petismo se retira da disputa menos pelo acerto prévio de Lula com Boulos do que pelo desempenho pífio que exibiu em 2020. Naquela eleição, o petista Jilmar Tatto colecionou ridículos 8,65% dos votos válidos. Boulos foi ao segundo turno com 20,24% dos votos. Na rodada final, amealhou 40,6% dos votos.

Hoje, Boulos molha a camisa para atenuar a pecha de radical que obteve em sua longa militância como líder dos sem-teto. E Nunes equilibra-se na corda bamba de uma articulação para obter o voto conservador do bolsonarismo sem acorrentar ao tornozelo a bola de ferro em que se converteu o "mito". A essa altura, a formalização de um casamento, que Bolsonaro condiciona ao compartilhamento de alguns goles de "tubaína", não parece ser um grande negócio para Nunes.

Numa disputa municipal convertida prematuramente em tira-teima da polarização federal de 2022, é imperioso incluir na equação os resultados das urnas no ano passado. Embora tenha prevalecido sobre Lula no Estado de São Paulo, Bolsonaro perdeu na capital. Deu-se o mesmo em relação ao bolsonarista Tarcísio de Freitas. Virou governador cavalgando os votos do interior. Entretanto, foi batido pelo rival petista Fernando Haddad na capital paulista.

Hoje, ironicamente, Boulos amealha seus melhores índices de intenção de votos nos nichos mais escolarizados e ricos. Entre os 31% de eleitores com curso superior, o candidato do PSOL tem a preferência de 44%, informa o Datafolha. Entre os 5% mais ricos, 45% declaram a intenção de votar em Boulos. Tomado por essa pesquisa, Nunes repete Bruno Covas, de quem herdou a cadeira de prefeito, colecionando 29% das intenções de voto dos 40% mais pobres.

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Num cenário assim, o apoio da máquina partidária do PT torna-se decisivo para Boulos. De resto, a importância da companhia de Lula no palanque cresce na proporção direta da melhoria dos índices econômicos do país.

Prever o resultado do embate paulistano com tanta antecedência exigiria um temerário exercício de quiromancia. Mas se os indicadores do Datafolha servem para alguma coisa é para sinalizar que Bolsonaro, às voltas com uma penca de inquéritos criminais, vai se consolidando como o melhor "cabo eleitoral de luxo" que Guilherme Boulos poderia ter.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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