Quantos generais Cid se dispõe a entregar para salvar o seu pai?
Na sua carreira militar, Mauro Cid jamais será promovido a general. Na carreira criminal, porém, o ex-braço direito de Bolsonaro experimenta uma progressão meteórica. Foi de suspeito a presidiário, de réu confesso a delator. Reivindica agora premiação judicial. Para fazer jus a uma eventual redução de pena, Cid terá que adensar na sua delação o capítulo fardado. A colaboração será incompleta se não retirar das sombras o generalato do golpe.
Hoje, a ficção produzida por Agatha Christie no seu "Crime do Expresso Oriente" é mais crível do que a realidade ainda obscura que conduziu o Brasil à intentona de 8 de janeiro. No célebre romance policial, havia 13 passageiros num vagão. Um deles foi assassinado. O detetive Hercule Poirot descobriu que todos concordaram com o crime. No quebra-quebra de Brasília, há um capitão golpista cercado de generais oportunistas. Até agora, nenhum deles tem nada a ver com a tentativa de assassinar a democracia.
Estima-se que os lábios de Cid pronunciarão os nomes de pelo menos três comandantes de escrivaninhas palacianas: os generais Braga Netto, Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos. A lista será incompleta enquanto não incluir o general Paulo Sergio Nogueira, comandante do destacamento militar que guerreou contra as urnas eletrônicas.
Mauro Cid não está preocupado apenas com a redução de sua futura pena. Deseja também livrar da encrenca penal o pai, general Lourena Cid. Os crimes relacionados à falsificação de cartões de vacina estão praticamente elucidados. A investigação sobre o desvio das joias está bem encaminhada. A maior contribuição que o delator pode dar está na elucidação da trama golpista de Bolsonaro.
Resta saber quantas cabeças de generais Mauro Cid se dispõe a entregar para salvar o seu pai, no momento o único general que ele tem real interesse em preservar.
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