Drama dos yanomami desafia gestão Lula a mostrar serviço
Lula fica à vontade quando fala mal de Bolsonaro. Fez da trincheira antibolsonarista sua zona de conforto porque a ignorância pessoal e a truculência política do antecessor tornaram-lhe as coisas mais simples em 2023. Bastou fechar o setor de demolição do Planalto e recriar antigos programas para produzir a descompressão de um novo tempo. Mas a persistência do drama dos yanomamis mostra que esse novo tempo, embora menos radioativo, não é necessariamente mais eficiente.
Em janeiro de 2023, Lula foi rápido na turbina. Alertado sobre a proliferação da fome, da morte e da criminalidade na reserva Yanomami, tomou o avião. Desembarcou em Roraima junto com uma comitiva de ministros. Definiu o cenário como "desumano". Prometeu comida e saúde aos donos da terra. Estufando o peito como uma segunda barriga, soltou a Polícia Federal em cima dos criminosos: "Vamos levar muito a sério essa história de acabar com o garimpo ilegal."
Decorrido um ano, o governo não conseguiu eliminar a mortandade dos indígenas. Foi malsucedido também o plano de banir os criminosos. Em reunião ministerial de emergência, Lula declarou na semana passada: "Vamos tratar os yanomami como questão de Estado". A coreografia seria menos constrangedora se Lula tivesse levado novamente sua valente figura a Roraima para explicar o que deu errado.
Uma análise sincera talvez levasse Lula a concluir que falar mal de Bolsonaro tornou-se um esporte politicamente inútil. A satanização do capitão perde a importância sobretudo quando o governo esquece que sua obrigação é mostrar serviço.
Bolsonaro implicou com as vacinas, brigou com as urnas e afrontou a democracia. Perdeu a reeleição, ganhou a inelegibilidade e virou uma condenação criminal esperando na fila para acontecer.
Cavalgando a irracionalidade do rival, Lula deu a volta ao mundo para anunciar que "o Brasil voltou". A volta ainda não foi integralmente sentida nos fundões da reserva Yanomami. Por mal dos pecados, já não se pode atribuir a Bolsonaro o insucesso do socorro aos indígenas.
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