Josias de Souza

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Opinião

Lula e Janja devem um pedido de desculpa a Bolsonaro e Michelle

A primeira semana do terceiro governo de Lula foi marcada por um embate inusitado: a guerra dos móveis. Impressionada com o desmazelo na manutenção do palácio residencial, Janja proporcionou a uma rede de TV uma visita guiada ao Alvorada. Havia infiltração no teto, mesa com a quina roída, poltrona rasgada, tapete furado, cortina puída e vidraça trincada. A certa altura, a primeira-dama levantou dúvidas sobre a falta de mobiliário.

"Ainda não sei dizer o que aconteceu, se os móveis que estavam aqui eram de propriedade da família e foram levados", disse Janja na ocasião. "Possivelmente, antes havia móveis. Preciso saber onde estão, em que estado estão. Estamos fazendo esse levantamento." Num café da manhã com jornalistas, Lula soou mais enfático. Insinuou que o caminhão de mudança do casal Bolsonaro levou mais do que deveria: "Não sei se eram coisas particulares do casal, mas levaram tudo. Então a gente está fazendo a reparação, porque aquilo é um patrimônio público".

Nas pegadas da declaração de Lula, a Secretaria de Comunicação da Presidência alardeou que 261 bens do patrimônio público haviam desaparecido. Simultaneamente, Janja foi às compras. Gastou R$ 196,7 mil em verbas públicas na aquisição de meia dúzia de peças —uma cama, um colchão king size, dois sofás e duas poltronas. Só a cama do primeiro-casal saiu por R$ 42 mil. O sofá, R$ 65,1 mil. Decorridos três meses, o Planalto informou que havia localizado parte do mobiliário. Mas 83 peças continuavam desaparecidas.

Michelle Bolsonaro foi às redes sociais na época para sustentar que os móveis estavam no depósito da Presidência. Irônica, sugeriu a instalação de uma CPI dos móveis. Nesta quarta-feira, notícia da Folha revelou que inventário feito pela Presidência constatou que nenhum móvel havia sumido. Foram localizadas todas as 261 peças. O levantamento foi concluído em setembro do ano passado. Já lá se vão quase seis meses. E o Planalto não se dignou a informar que as primeiras insinuações eram improcedentes.

Está claro que os atuais inquilinos do Alvorada colocaram a carroça na frente dos cavalos ao jogar insinuações no ventilador antes da conclusão do inventário dos móveis. O silêncio fornece lenha para a oposição num instante em que inquéritos da Polícia Federal empurram Bolsonaro para o córner. Existe, sem dúvida, um remédio infalível para o erro: reconhecê-lo. Pessoas que cometem um erro crasso e não o corrigem cometem outro erro. Janja e Lula devem um pedido de desculpa a Bolsonaro e Michelle. No limite, devem esse pedido ao país.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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