Áudios tóxicos fizeram de Cid e Bolsonaro náufragos abraçados
O episódio do vazamento de áudios tóxicos de Mauro Cid contra a Polícia Federal e Alexandre de Moraes coroa a má fase de Bolsonaro na seara criminal. Aquilo que poderia ter sido a realização do sonho dos investigados de instalar um tumulto nos inquéritos sobre golpe, joias e cartões falsos de vacina virou a realização dos piores pesadelos do delator e do seu ex-chefe.
Mauro Cid voltou para a prisão. Virou pó a pretensão da defesa de Bolsonaro de converter crimes já mapeados numa grande polêmica sobre tecnicalidades processuais. Delator e delatado tornaram a frequentar a conjuntura juntinhos. Após uma fase de distanciamento cenográfico, ambos naufragam abraçados.
As gravações de teor vadio foram trazidas à luz por Veja na noite de quinta-feira, dia em que Bolsonaro completou 69 anos. Num suposto diálogo com um amigo, Cid disse ter sido constrangido por inquisidores a delatar inverdades. Insinuou que os inquéritos e as futuras sentenças comporiam um jogo de cartas marcadas, cujo desfecho seria um lote de condenações incontornáveis e preconcebidas.
Na mesma noite, antes que as insinuações virassem matéria-prima para a desqualificação dos inquéritos, o diretor-geral da PF, Andrei Passos, representou contra Cid junto ao Supremo.
Movendo-se na velocidade da luz, Moraes intimou o delator a prestar esclarecimentos no início da tarde desta sexta-feira perante o desembargador Airton Vieira, juiz instrutor do seu gabinete. A oitiva foi testemunhada por representantes da PF e da Procuradoria-Geral da República.
Após meia hora de um depoimento no qual confirmou os termos de sua delação, Cid recebeu voz de prisão. Foi detido por ordem de Moraes sob a acusação de obstruir a Justiça e violar medidas cautelares impostas a ele em setembro do ano passado, quando o acordo de delação premiada foi homologado. Entre essas medidas estava a proibição de se comunicar com os demais investigados.
A delação de Cid virou um asterisco passível de anulação. Sem prejuízo do aproveitamento dos crimes confessados e todas as provas materiais e testemunhais que os corroboram. O que parecia um mimo de aniversário para Bolsonaro, converteu-se em presente de grego.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.